O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Países como Argentina e Chile vivem período de turbulência. Na entrevista a seguir, Patricia Krause, economista da seguradora de crédito francesa Coface para a América Latina, avalia os desafios ao desenvolvimento da região. Ao comentar o cenário brasileiro, a analista destaca a aprovação da reforma da Previdência. Segundo ela, as mudanças no sistema de aposentadoria devem trazer mais confiança ao país, que ainda sofre os efeitos da última recessão.
Como descreve o atual momento da economia brasileira?
O PIB (Produto Interno Bruto) deve crescer 0,8% neste ano, o que é um resultado fraco. Em 2020, a alta deve ser de 1,5%. Reformas demoram para avançar, e o ambiente global está mais imprevisível. A reforma da Previdência tinha de passar neste ano. O projeto não resolve todos os problemas, mas gera mais confiança para empresas e funcionários. O investimento privado melhorou nos últimos trimestres, mas continua em patamar baixo. Ainda há muita capacidade ociosa nas empresas. Isso limita o crescimento. Mas a tendência é positiva.
Por quê?
De modo geral, com a reforma da Previdência, o Brasil fica em uma situação relativamente melhor na América Latina. A reforma tributária ficou para o ano que vem. As mudanças na Previdência devem demorar um pouco para ter efeito nas contas públicas, mas trazem a ideia de sustentabilidade. Geram maior otimismo em relação ao país e podem ajudar a atrair investimentos no médio e longo prazo. A Selic está em queda e pode chegar a 4,5% neste ano (a taxa básica de juro está em 5,5%, menor nível histórico). Avançar na reforma tributária também será um caminho importante.
Países da América Latina como Argentina e Chile passam por turbulência. Quais os riscos para o Brasil?
O cenário na região está bem turbulento. Houve vários eventos complicados. No primeiro momento, o que mais afeta o Brasil é a situação da Argentina, que é nossa principal parceira comercial na América Latina. É um efeito que já está ocorrendo. As exportações para lá caíram cerca de 40% no acumulado do ano. Não acho que terá grande piora nas vendas para a Argentina, porque já estão em patamar muito baixo. Investidores estrangeiros com recursos aplicados em mercados emergentes podem diminuir aportes na América do Sul por causa de riscos. Isso pode respingar no Brasil, apesar de o país estar em uma situação mais estável. O Chile tem economia desenvolvida em vários aspectos, mas sofre com a desigualdade social, que segue alta. Também vimos conflitos no Equador. Não é o cenário base, mas não se pode descartar que casos parecidos ocorram em outros países da América Latina. Desigualdade é problema comum na região.
Quais os principais desafios para o desenvolvimento econômico da América Latina?
As recentes tensões mostram a dificuldade de desenvolvimento nos países. A Argentina sofre com vários desequilíbrios, tem a questão dos preços artificiais. Mauricio Macri assumiu a presidência (em 2015), tentou mudar tudo, e não deu certo. Teve de pedir ajuda para o FMI (Fundo Monetário Internacional). Não funcionou. No Equador, o presidente Lenín Moreno, com ajuda do FMI, tentou fazer um ajuste forte, mas acabou gerando conflito e perda de apoio político. A dúvida na região é como ajustar desequilíbrios fiscais sem gerar grandes resistências nos países. Muitas vezes, busca-se estimular a economia por um período, sem crescimento sustentável por mais tempo. Parece que sempre voltamos aos mesmos problemas na América Latina. O Chile, por exemplo, não conseguiu resolver questões sociais, de distribuição de renda.