O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Depois de encaminhar a aprovação da reforma da Previdência no Congresso, nesta terça-feira (22), o governo Jair Bolsonaro não pode ficar restrito ao ajuste fiscal, dizem especialistas. Segundo eles, o Planalto deve buscar medidas que compensem o fato de a população ter de trabalhar por mais tempo.
Embora reconheça as dificuldades das contas públicas, o economista Ely José de Mattos, professor da PUCRS, avalia que ir além da reforma é uma maneira de proteger camadas mais desfavorecidas da população.
– O estímulo a programas educacionais será ainda mais necessário. Com as reformas trabalhista e da Previdência, precisaremos de trabalhadores mais competitivos por mais tempo. Além disso, programas sociais como o Bolsa Família também têm de ser fortalecidos. Isso não é caridade. É uma medida social – defende o economista.
Apesar das diferenças, Ely cita o Chile como exemplo que o Brasil deve analisar. Ao longo das últimas décadas, o país andino "ignorou" o aumento da desigualdade social, segundo o economista. O resultado do descontentamento da população local ganhou as ruas nos últimos dias, com a eclosão de uma onda de protestos. Um dos alvos das críticas é o baixo nível de salários e de aposentadorias. O modelo de previdência em vigor no Chile é o de capitalização, que ficou de fora da reforma brasileira, apesar dos elogios do ministro da Economia, Paulo Guedes.
– O que aconteceu com o Chile é consensual. O país ignorou o aprofundamento da desigualdade. É lógico que o cenário de lá não é igual ao daqui. Mas é preciso olhar mais para a distribuição de renda – comenta Ely.
A preocupação com a desigualdade no Brasil encontra reflexo nos números. A diferença entre ricos e pobres sobe no país há 17 trimestres consecutivos, pouco mais de quatro anos.
O ciclo é o mais longo já verificado pelo centro de estudos FGV Social. Nesta terça-feira, a iminente aprovação da reforma repercutiu de maneira positiva no mercado financeiro. A bolsa de valores de São Paulo fechou em alta de 1,28%, a 107.381 pontos. Com o resultado, renovou seu recorde histórico. O dólar caiu 1,33%, cotado a R$ 4,076.