Eles estiveram na criação da XP Investimentos, hoje uma gigante nacional. Mas saíram juntos
e resolveram empreender em novos formatos de negócio. Marcelo Maisonnave, Pedro Englert e Eduardo Glitz lançam seu livro, Empreendedores, na terça-feira (8), também a seis mãos. Sempre no coletivo, assim como as sete empresas: a plataforma educacional StartSe
– com escritórios no Vale do Silício e na China –, a corretora digital Warren, a startup de varejo Yuool, mais quatro com focos distintos no mercado financeiro Fitbank (pagamentos), Monkey (recebíveis), Beetech (transações internacionais), Vortx (administração fiduciária). E vão
lançá-lo em um local simbólico, a Fábrica do Futuro, em Porto Alegre. Aqui, contam como escolhem as áreas em que atuam e o que aprenderam com seus erros. E como experimentar
é preciso, a entrevista também é tripla.
Como veem hoje a XP convertida em um gigante nacional?Glitz: Nada mais é do que um caso de empreendedorismo.
Englert: O que vemos hoje é que nunca foi tão possível sonhar com qualquer coisa e tentar realizar. No passado, imaginar fazer coisas muito grandes, como criar um banco, se não tivéssemos R$ 1 bilhão na conta, seria impossível.
O mundo está mais democrático. A XP é um exemplo desse novo mundo que está cada vez mais permitindo que essas coisas aconteçam. Se olharmos plataformas como Nubank, Rappi, QuintoAndar, veremos que são empreendedores sonhadores que conseguiram organizar esse sonho em segmentos e foram fazendo isso com intensidade até ficarem grandes.
Maisonnave: Ficou mais fácil empreender hoje pelas tecnologias disponíveis. Quando vamos empreender, não esperemos a tecnologia mais avançada, aquela que ninguém tem. É muito mais experimentar na prática, tentar, cair, levantar, tentar de novo. É vontade de fazer o que é possível, com pequenos passos, se chega longe.
Um grupo de pessoas em um pequeno escritório tem condições de combater os gigantes usando tecnologias e novas formas de gestão.
EDUARDO GLITZ
Virar um gigante é a maior medida de sucesso?
Glitz: A nova economia e as novas tecnologias mudam o mercado de duas formas muito significativas. A primeira é a concorrência transversal, isto é, empresas de outras áreas passam a atacar um segmento com o qual não eram ligadas. O exemplo básico é o Airbnb, que era de tecnologia e abocanhou o mercado de hotéis. A segunda é a assimetria, quando o pequeno passa a concorrer com o grande. Um grupo de pessoas em um pequeno escritório tem condições de combater gigantes usando tecnologias e novas formas de gestão. Como a Warren, que briga com grandes bancos, o Nubank, que tem hoje sete milhões de contas. Como há muitas ineficiências nos bancos, pequenas startups surgem para tentar corrigir essas dores.
Maisonnave: No livro, falo em "pizza size", expressão usada no Vale do Silício para dizer
que um time que pode ser alimentado por uma pizza grande, de oito pessoas, tem capacidade executiva muito grande. O sucesso pode ser trabalhar com oito pessoas, geralmente startups funcionam assim. Existe o sucesso das empresas que fizeram IPO (abertura de capital, para captar recursos) e existe o sucesso do grupo que tirou uma ideia
do papel. A medida do sucesso pode ser usada com duas escalas.
Englert: Com a distribuição digital, não há mais necessidade de lojas físicas para distribuir produtos. A redução de custos com tecnologia e capital financeiro disposto a investir no mercado de venture (risco) fez com que fossem criadas milhões de empresas. Isso mudou completamente o quadro de concorrência. Um grande banco, por exemplo, se protegia com a sua robustez tecnológica e de distribuição. Tinha uma campanha que dizia "Presença, cinco mil agências no Brasil". Quando a distribuição digital consegue levar o mesmo produto que uma agência física, aquele ativo vira passivo. O que defendemos é que as práticas de gestão que nos trouxeram até aqui não são mais eficientes nesse novo cenário. Estamos jogando em novo ambiente que precisa de outra atuação.
Na dinâmica com que atuamos o erro não é marcante, acontece de forma rotineira. Mas é erro na validação de uma hipótese, quando se testa algo e não dá certo, volta e faz de outro jeito.
PEDRO ENGLERT
Quais os erros que mais ensinaram?
Glitz: Começar a investir em algumas startups apenas com o objetivo de investir e achar que isso seria suficiente. Erramos, algumas não deram certo e entendemos que a forma de investimento e gestão seria muito mais relacionada a empreender junto com essas startups. Agora, investimos e também participamos da tomada de decisões e no dia a dia. Esse foi um aprendizado marcante.
Englert: Na dinâmica com que atuamos o erro não é marcante, acontece de forma rotineira. Mas é erro na validação de uma hipótese, quando se testa algo e não dá certo, volta e faz de outro jeito. Hoje, nossa dinâmica é como uma gestão de portfólio. Fazemos três ou quatro ações para entender qual o potencial de cada uma e qual é a perda máxima.
Se uma ou duas derem certo, vão compensar o prejuízo das demais. Quando assumi o Infomoney, sabíamos que não poderíamos depender de mídia para viver. Testamos 10 coisas, sete deram errado, um ou duas deram certo, e uma aumentou em 10 vezes a receita da empresa. Seu não tivéssemos tido o direito de errar nas outras sete, essa não teria dado certo.
Maisonnave: No crescimento da Warren em Porto Alegre, precisamos contratar pessoas e insistimos em um talento, uma pessoa muito produtiva, mas que não tinha a cultura da empresa. Apesar de sabermos a cultura é muito importante, insistimos. Perdemos muito tempo com essa pessoa, que no final acabou saindo. A cultura corporativa e identificação com os valores da empresa são fundamentais.
Não fugimos muito da receita. Primeiro tentamos encontrar produto ou serviço que está mal trabalhado. Como temos grande vivência em mercado financeiro, ficamos mais sensíveis a essas dores. Vemos que em investimentos ainda tem deficiências, vamos lá e criamos uma empresa.
MARCELO MAISONNAVE
O que avaliam na hora ao abrir uma nova empresa?
Glitz: Vemos muitas oportunidades no mercado de seguros. Erramos a execução, lá atrás, ao tentar entrar nesse mercado. Continuamos interessados, mas quando vamos investir não sei. Sabemos que há muitas dores. Quando encontrarmos o momento, talvez criemos uma empresa.
Maisonnave: Não fugimos muito da receita. Primeiro tentamos encontrar produto ou serviço que está mal trabalhado. Como temos grande vivência em mercado financeiro, ficamos mais sensíveis a essas dores. Vemos que em investimentos ainda tem deficiências, vamos lá e criamos uma empresa. Vemos que o crédito para empresas ainda é muito caro, vamos lá e tentamos criar uma solução. É tudo derivado da percepção de oportunidade. Depois nisso, tentamos encontrar um time, pessoas em que confiamos, para tocar esses projetos.
Atenção: em breve, você poderá acessar o site e o aplicativo GaúchaZH usando apenas seu e-mail cadastrado ou via Facebook. Não precisará mais usar o nome de usuário. Para saber mais, acesse gauchazh.com/acesso