Com mais um mês de estagnação no mercado de trabalho – em setembro, a taxa de desocupação medida pelo IBGE ficou em 11,8%, mesmo patamar do mês anterior –,
ganha força uma projeção que vem frequentando os cenários traçados por economistas
para os próximos anos: sem novidades, o desemprego não baixará de dois dígitos antes de 2023, ou seja, estariam "contratados" mais três anos de retomada lenta de renda e confiança do consumidor.
A primeira vez que a coluna ouviu essa projeção, veio da economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo, em palestra no 20º Congresso de Revendedores de Combustíveis da Região Sul e Expopetro. Foi um susto.
Mas a economista apresentou vários argumentos para sustentar a projeção. Um é o fato de as empresas terem ficado mais produtivas durante a crise, ou seja, tocarem os negócios com menos funcionários. Outro é um fenômeno "importado" da física, chamado histerese, segundo o qual um sistema submetido durante longo tempo a novas condições conserva certas características mesmo depois que as causas deixam de atuar. Pode ser traduzido para atraso ou retardo.
Desde então, o prognóstico se reproduziu em ao menos três apresentações de cenários futuros para o Brasil. No mais recente, uma conversa reservada com um pequeno grupo,
a coluna quis saber se a projeção que parecia espantosa havia se tornando consenso.
A resposta, de um destacado economista-chefe de um grupo financeiro, foi: "na verdade, ninguém sabe". Os argumentos foram os mesmos usados por Patrícia, ponderados pelo
fato de que, como são fenômenos novos, são de projeção mais difícil.
Essa dificuldade não é ignorada pelo governo federal. Ainda mais à luz dos protestos que vêm se avolumando ao redor de quase todo o planeta, do Chile ao Líbano, da Bolívia ao Iraque, é preciso considerar que a paciência da população tem prazo de validade. No Brasil, conforme disse à coluna o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, a situação social só não é mais grave porque o país desenvolveu mecanismos de compensação, como o seguro-desemprego e o Bolsa Família.
Mas o sinal de alerta foi dado e captado. Não é por outro motivo que até economistas profundamente comprometidos com o ajuste fiscal, como Paulo Tafner, que coordenou a equipe técnica responsável pela maior parte do texto da reforma da Previdência, pedem medidas de estímulo à economia específicas para gerar emprego. Segundo informação que circula no mercado financeiro, nesta sexta-feira (1º), o governo federal vai apresentar sua proposta para facilitar a entrada no mercado de trabalho, especialmente dos jovens. Deve vir acompanhada da polêmica "carteira verde-amarela" (veja as duas opiniões apresentadas neste parágrafo), que reduz direitos trabalhistas para facilitar a contratação. O argumento do ministro da Economia, Paulo Guedes, é de que o Brasil tem de escolher entre mais direitos e menos empregos ou mais empregos e menos direitos. Se há controvérsia sobre a medida, não há sobre seus efeitos: mesmo com menos direitos, sem sinal de crescimento não haverá redução do desemprego.