Não é frequente publicar a opinião de um mesmo economista duas vezes na mesma semana. Mas o mesmo Paulo Tafner citado pela coluna na véspera, por ter coordenado a equipe que formulou a base da reforma da Previdência, tem opinião surpreendente sobre os próximos passos do governo na área econômica. Extremamente focado em ajuste fiscal, avalia que será necessário dar algum estímulo para que a economia volte a crescer. Esse tipo de medida costuma ser defendida por economistas de outra corrente. E o motivo pelo qual Tafner pede que o governo invista é sua percepção de que as reformas, tanto a da Previdência, já aprovada, quanto as que estão por vir – administrativa e tributária – só vão provocar efeitos no médio e longo prazos.
A reforma da Previdência vai acelerar a economia?
A reforma da Previdência é como se alguém tivesse comprado uma casa velha, mas interessante, com bom terreno. Precisa de reforma. A da Previdência pode ser comparada com a mudança do sistema elétrico, tem de tirar a fiação velha e trocar todo o sistema elétrico, inclusive o quadro. É o tipo de reforma de que ninguém gosta, pois não aparece. Mas é a que garante que a casa não vai pegar Fogo. Temos de fazer as outras, que vão tornar a casa habitável. Com a Previdência, o Estado atacou a principal despesa do orçamento. Com a administrativa, ataca a segunda. Isso dá maior flexibilidade orçamentária e de gestão fiscal. Depois vêm outras, como o pacto federativo, a reforma tributária e as microeconômicas, como as que o Rogério Marinho (secretário da Previdência e Trabalho) está fazendo nas NRs (normas regulamentadoras), uma minirreforma trabalhista. Apesar de estar indo na direção correta, o governo precisa angariar apoio popular. Não pode só fazer reforma. A forma de ter apoio é fazer a economia crescer. O governo tem que dedicar esforços a fazer articulação política para as matérias andarem.
Os resultados das reformas são de médio e longo prazos?
No caso da reforma da Previdência, os impactos mais fortes se dão a partir do quarto para o quinto ano. O governo deveria, em paralelo a esse conjunto ambicioso e correto de reformas, começar a pensar a destinar parte dos recursos da privatização e dos leilões para ativar a economia. Abater a dívida é importante, mas é preciso ativar a economia com investimento, não aumentando salário, como antes, pois é o pior gasto que o governo pode ter. É preciso concluir obras e abrir novas frentes, tem enorme impacto na geração de emprego e renda.
O Brasil precisa crescer, como sociedade temos de começar a dar respostas a esses milhões de desempregados.
Isso quer dizer estímulo fiscal?
Sim, transformar ativos empatados em um monte de estatais e destinar parte, não tudo, a um programa de estímulo. A economia tem dado sinais de que só a política monetária não é suficiente para fazer com que reaja na velocidade necessária. A geração de emprego no mês passado foi boa, recorde desde 2013, mas o ritmo de crescimento precisa se acelerar. A população não pode mais esperar. A sociedade deu sinais de solidariedade enormes, todo mundo aguentou. É hora de dar um pequeno estímulo, mantendo enorme controle fiscal.
É completamente diferente do que foi feito no final do governo Lula e todo o governo Dilma. É preciso ter controle absoluto, ter como meta zerar o déficit fiscal, mas pegar parte do recurso e utilizar para finalizar obras, acelerar outras e estabelecer novas, com grande impacto na geração de emprego. É hora do governo dar um estímulo fiscal à economia,
não só monetário. É nessa fase de transição dos ajustes estruturais que queremos, não para sempre. O risco é viciar, como alguém que experimenta uma droga. É preciso tomar cuidado.
Haveria recursos suficientes?
Com os leilões do pré-sal e todo o pacote de privatização, dá mais de R$ 100 bilhões. Se o governo reservar 30% ou 40% para investir, e o resto para abater dívida, seria espetacular. Abater dívidas reduz o custo da rolagem.
Por outro lado, o impulso monetário chegou ao limite. Daqui a pouco, não tem mais como baixar o juro básico.
A economia vai crescer naturalmente, mas se pode dar impulso para crescer 2,5% em vez de 1,5%, dá sensação
de conforto gigantesca, gera emprego, a arrecadação passa a voltar, os empresários começam a investir. Enfim, acelera-se o processo de recuperação. É só para isso, não é para um programa permanente.