Mal a reforma da Previdência terminou de ser aprovada, na tarde desta quarta-feira (23),
o brasileiro que mais contribuiu para a definição das novas regras já está pensando na próxima etapa. Paulo Tafner, economista especializado em temas previdenciários, comandou a equipe que elaborou a base das mudanças na aposentadoria que deve entrar em vigor até 19 de novembro. Depois de certa insistência da coluna, ele reconhece como de autoria desse grupo 70% do texto aprovado.
–Estamos há mais de 20 anos nessa batalha da reforma da Previdência, e hoje estamos vitoriosos. A sociedade e o Parlamento compreenderam essa questão – afirma.
Tafner destaca o perfil mais reformista do Congresso e a liderança do presidente da Câmara do Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), mas observa que, pela primeira vez desde que é adulto, vê o Congresso com um comportamento "mais pragmático e responsável até do que o do Executivo".
– Em geral, o dono da pauta é o Executivo, quem mobiliza para votação é o Executivo. Não é bom que esse seja o papel do Legislativo. O problema é que a sensação que se tem é de que a reforma foi feita apesar do governo, e isso não é bom. Deveria somar força.
Poucos minutos depois de comemorar a vitória, Tafner já está com foco na próxima agenda de reforma da Previdência: já acertou uma reunião, em fevereiro, no Ceará, com um grupo de especialistas para retomar o debate sobre capitalização, o sistema baseado na poupança individual do trabalhador. Na visão dele, o regime atual, de repartição (os ativos contribuem para bancar os benefícios dos aposentados) está com os dias contatos:
– A redução da natalidade fez com que demografia brasileira implodisse, o que tornou o sistema de repartição insustentável. Não há escapatória. Quem pensa em Previdência no Brasil para o futuro sabe que é preciso incorporar algum tipo de capitalização.
Esse sistema, o mesmo usado no Chile, foi bombardeado já na largada da tramitação da reforma no Congresso. Questionado se essa não é uma batalha muito complicada, Tafner respondeu:
– Sou especialista em batalhas complicadas. Assim como a sociedade percebeu a necessidade da reforma da Previdência, logo será tão evidente que o sistema vai ficar insustentável que não haverá outra escolha senão essa. No grupo estão envolvidos vários pesquisadores sem filiação partidária, como eu, e também de vários matizes, ligados a partidos diversos, como PDT, PSDB, PSB.
Indagado se será mais uma batalha que vai levar 20 anos, advertiu:
– Não temos 20 anos para isso. Temos de fazer bem antes.