O dia que começou assombrado pelo vídeo raivoso do presidente da República, Jair Bolsonaro, terminou com o menor juro básico da história do Brasil. Foi o único tema que interessou investidores e especuladores ontem. Embora o dólar tenha aberto com leve alta,
e a bolsa, em ligeira baixa, analistas afirmavam que o "evento presidencial" não era tema nas mesas de operação. Bastou o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), confirmar o terceiro corte de juro por lá para inverter os sinais: o dólar recuou e a bolsa subiu.
– A reação foi fria porque o mercado deposita toda a credibilidade na equipe econômica, principalmente
Paulo Guedes (ministro da Economia). Não afeta a pauta
do Congresso – interpreta Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, especializada em risco.
Ainda antes da confirmação do corte no juro básico brasileiro para 5% ao ano, que só veio uma hora depois, a bolsa fechou com novo recorde, a 108.407 pontos, e o dólar encerrou o dia outra vez abaixo de R$ 4, em R$ 3,987. Ao cortar a Selic em 0,5 ponto percentual, o Banco Central foi claro como nunca antes: o cenário "deverá permitir um ajuste adicional, de igual magnitude". Até agora, a redução do juro é a única estratégia governamental de estímulo à retomada da economia. O desafio que se torna ainda mais urgente, portanto, é transferir a poda no juro básico para a efetiva redução nas taxas de mercado.
Conforme dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), desde março de 2013, quando começaram os cortes na Selic, a redução acumulada era de 24,1%. No mesmo período, taxa média de juro de mercado subiu, em vez de cair. Para pessoa física, ficou 31,4% mais alta. Para empresas, 9,32% maior.
Pode ter explicação, mas é claramente disfuncional.