Por Pedro Dutra Fonseca, professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS
A economia é sujeita a modismos, e a palavra da moda é histerese. Adaptada da Física, ela é usada para designar consequências sem volta ou de difícil retorno causadas por uma crise muito longa. Lembra que a história importa e certas mudanças não retroagem. Como uma mola ou elástico que, se ficarem muito tempo espichados, não voltam à forma inicial. O exemplo mais citado em economia é o desemprego: depois de anos afastados do mercado de trabalho, os trabalhadores ficam defasados. Novos processos, máquinas, técnicas e produtos são introduzidos, de modo que o retorno exigirá grande esforço de adaptação, ou mesmo os impedirá de exercer as antigas funções – algumas das quais podem até ter desaparecido. No limite, serão excluídos do mercado de trabalho, principalmente os mais velhos, os menos escolarizados e os com maior dificuldade de adaptação.
Mas as consequências também atingem os jovens, pois, se estes não conseguem ingressar no mercado, também perdem o investimento em anos de estudo e deixam de praticar seus conhecimentos no período da vida em que as pessoas são mais criativas e inovadoras. Duas dolorosas consequências, dentre outras. Uma é a psicológica: o desalento, a falta de estímulo para estudar, já que não há perspectiva de “pôr em prática” o que aprenderam. E, sem o estudo, as possibilidades minguam ainda mais. A outra é a alternativa individual, especialmente para os mais qualificados: ir para o Exterior. Estudos mostram que a maioria não retorna, de modo que a fuga de cérebros causa um prejuízo permanente ao país. O baixo investimento em educação, ciência e tecnologia, com orçamentos cortados na crise, trazem danos muito mais duradouros do que se imagina, além do desperdício de recursos.
A histerese também atinge empresários. Com a capacidade ociosa inerente às crises, são desestimulados a novos investimentos. Muitos deixam de acompanhar as tendências do mercado e cuidam mais da sobrevivência do que do futuro. A velocidade para ficar defasado no meio empresarial é ainda maior do que entre trabalhadores, pois a concorrência e a inovação são as molas-mestras do jogo. Depois de mais uma “década perdida”, com taxas abaixo dos tristes anos 1980, o Brasil não tem tempo de esperar mais. Essa deveria ser a prioridade.