Depois que o Brasil fez concessões aos Estados Unidos, esperando apoio à entrada do Brasil na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), foi preterido pelo parceiro. Os EUA preferiram chancelar as candidaturas de Argentina e Romênia para o chamado "clube dos países ricos", em carta enviada à instituição em agosto.
A promessa de respaldo do presidente Donald Trump à pretensão brasileira havia sido usada pelo presidente Jair Bolsonaro para justificar concessões comerciais e institucionais aos EUA em março passado. Uma das condições era a renúncia à condição de país em desenvolvimento ante a Organização Mundial do Comércio (OMC). Essa característica permite acesso a tarifas de exportação menores, ou seja, torna produtos nacionais um pouco mais baratos no Exterior. Menos mal que ainda não havia dado tempo de abrir mão dessa vantagem que é concreta, embora limitada.
A entrada na OCDE é um dos projetos mais caros ao Planalto. Une o Ministério da Economia e o da Casa Civil, nem sempre afinados quanto a metas. Uma das justificativas é a de que a situação de país-membro da OCDE obrigaria o Brasil a ter de aderir a certas regras, especialmente econômicas, de forma duradoura. A certeza da admissão é tanta que muitas das medidas legais em preparação no Ministério da Economia já são adaptadas a regras da OCDE.
Em troca do apoio dos EUA, agora condicionado, o Brasil fez muitas concessões à espera desse apoio: a dispensa de vistos para cidadãos americanos, feita sem a tradicional reciprocidade – liberações econômicas e de trânsito de pessoas costumam ser feitas ao mesmo tempo por duas partes envolvidas na mudança –, a permissão para uso da Base de Alcântara pelos EUA e isenção de tarifas na importação de trigo americano pelo Brasil, entre outras vantagens concedidas antes de assegurar a moeda de troca.
Bolsonaro fez o discurso de "amigo dos EUA", e Trump, certo da amizade incondicional, preteriu o colega brasileiro. Assegurou que o apoio não foi retirado, mas terá "ritmo controlado". O presidente brasileiro precisa aprender, na prática, a lição dos manuais de negociações internacionais: não fazer concessões antecipadas sem garantir a reciprocidade dos manuais.
José Augusto de Castro, presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), especula que a "esnobada" dos EUA ao Brasil seja uma reação ao acordo União Europeia-Mercosul:
– Ninguém vai dizer abertamente, mas EUA e Brasil são os grandes fornecedores mundiais. Com o acordo, é como se o Brasil tivesse reserva de mercado.
Para Castro, a prioridade à Argentina seria uma forma de "apoio moral", porque o país não tem condições de atender às exigências da OCDE para se tornar país-membro – o que agrava a desfeita dos EUA.
Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior, avalia que o Brasil só entrará na OCDE quando – e se – houver apoio norte-americano:
– Não existe janela ou prazo. Depende de o Brasil implementar reformas e ter apoio dos sócios da OCDE.
Há disputa por vaga com Argentina e Colômbia.
Ao menos, ressalva, o Brasil ainda não abriu mão das vantagens que tem como país em desenvolvimento:
– Não houve acordos na OMC posteriores à declaração Bolsonaro-Trump, por isso o Brasil não fez declaração neste sentido.
No país que ganhou prioridade de ingresso na OCDE graças ao apoio dos EUA, a reação foi de surpresa. Os argentinos preferiam destacar a "desfeito" de Donald Trump a Jair Bolsonaro do que especular sobre algum eventual ganho do país, até por saber das escassas chances de virar, de fato, sócios do clube dos países ricos.
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