A carta do secretário de Estado do Estados Unidos, Mike Pompeo, dizendo que apoia o ingresso da Argentina e da Romênia na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em detrimento do Brasil, não altera as chances do país de ingressar no chamado "clube dos ricos", de acordo com o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que se reuniu com o secretário-adjunto da OCDE Ludger Schuknecht nesta quinta-feira (10).
"Nada muda com a carta do secretário americano. O que a própria OCDE defende é um ritmo gradual para acesso de novos membros (e Argentina e Romênia encaminharam sua entrada antes que o Brasil). A carta de Mike Pompeo é uma resposta à OCDE, que questionou o apoio de Donald Trump ao Brasil, enquanto a Argentina já estava no processo antes que o Brasil", afirmou Onyx no Twitter.
"Pompeo respondeu que EUA respeitam os trâmites da OCDE, apenas isso. O que não invalida o apoio americano ao Brasil — nem o apoio de Israel, do Reino Unido, do próprio secretário-geral do organismo (Angel Gurría) e de muitos outros", completou.
Para o ministro-chefe da Casa Civil, o Brasil ainda precisa cumprir quase 200 requisitos para entrar na OCDE, e, segundo ele, está no caminho:
"Nunca um país esteve tão adiantado para entrar na OCDE. Dos 253 requisitos exigidos pela organização, já cumprimos com 82. Outros 66 estão em análise e o restante em preparação. Seguimos trabalhando e estamos no rumo certo para entrar na organização. Para a satisfação dos brasileiros que terão seu País aliado às nações mais desenvolvidas do mundo", afirmou o ministro.
A conta oficial da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil corroborou as informações veiculadas por Onyx Lorenzoni. Nesta quinta-feira (10), eles afirmaram que continuam mantendo a declaração de 19 de março sobre o apoio norte-americano ao Brasil na OCDE.
Mais cedo, uma carta obtida pelo site Bloomberg mostrava a rejeição do secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo de discutir a entrada do Brasil no clube dos países mais ricos do mundo. A missiva fora enviada no dia 28 de agosto para o secretário-geral da organização, Angel Gurría. Ele acrescentou que os Estados Unidos apoiam só a Argentina e a Romênia.
Segundo fontes do governo, a indicação da Argentina não é novidade. Desde os primeiros contatos da gestão de Jair Bolsonaro, os auxiliares do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deixaram claro que a Argentina seria o país indicado pelos americanos. Já a Romênia é uma indicação dos europeus.
Há 40 dias, dizem pessoas ligadas à equipe econômica, o ministro da Economia, Paulo Guedes, foi informado por um representante do governo americano de que a indicação da Argentina ocorreria em breve.
Em março deste ano, o Trump afirmou publicamente que endossaria a campanha brasileira para o ingresso na OCDE. Em troca de obter o apoio dos Estados Unidos, o Brasil prometeu abrir mão de seu "tratamento especial e diferenciado" na Organização Mundial de Comércio (OMC), que dá ao país maiores prazos em acordos comerciais e outras flexibilidades.
Uma das medidas efetivamente adotadas pelo governo brasileiro foi elevar para 750 milhões de litros, ante 600 milhões anteriormente, a cota para importações anuais de etanol sem tarifa. A medida vigorará por 12 meses e foi comemorada por Donald Trump, já que os Estados Unidos são os principais exportadores de etanol para o Brasil.
A OCDE
Estabelecida em 1961, a OCDE agrupa países com economias com elevados PIB per capita e Índice de Desenvolvimento Humano, considerados desenvolvidos. Atualmente, 36 países integram a organização. Popularmente, o colegiado é conhecido com o uma espécie de "clube dos países ricos". O colegiado estabelece parâmetros e conjuntos de regras econômicas e legislativas para os membros.
Atuação
Os integrantes do bloco trocam informações e alinham políticas para potencializar o crescimento econômico e colaborar com o desenvolvimento de todos os demais países-membros. A organização oferece um fórum de debates para os integrantes compartilhar experiências e buscar soluções para problemas comuns.
Requisitos para ingressar na OCDE
Além do apoio de países europeus, o Brasil tem de cumprir uma série de requisitos da organização para ingressar no bloco oficialmente, como iniciativas que buscam o controle fiscal. Nos últimos anos, o Brasil vem tentando se enquadrar nas recomendações da organização.
Países-membros
Alemanha; Austrália; Áustria; Bélgica; Canadá; Chile; Coreia do Sul; Dinamarca; Eslováquia; Eslovênia; Espanha; Estados Unidos; Estônia; Finlândia; França; Grécia; Holanda; Hungria; Irlanda; Islândia; Israel; Itália; Japão; Letônia; Lituânia; Luxemburgo; México; Noruega; Nova Zelândia; Polônia; Portugal; Reino Unido; República Tcheca; Suécia; Suíça; e Turquia.