Como a coluna antecipou em julho, setembro era o mês na mira do governo estadual para a venda das ações ordinárias do Banrisul que excedem o necessário para garantir controle público da instituição. Graças à liberação judicial para a operação, foi possível colocar a operação em movimento na data prevista. O que animou o governo a fazer a operação ainda neste ano foi o fato de a bolsa de valores ter alcançado 100 mil pontos. Embora esse patamar tenha sido perdido durante alguns dias, foi recuperado na semana passada. No governo Sartori, operação semelhante teve de ser cancelada diante de uma fase ruim no mercado financeiro, que representaria risco de mau negócio.
Para obter o melhor resultado, também era preciso esperar o fim das férias de verão no Hemisfério Norte, ou seja, setembro. A grande parte dos atuais acionistas minoritários do banco é formada por estrangeiros: New World Fund, Credit Suisse Firts Boston, UBS (unidade de Londres) e Goldman Sachs. A lógica dessa operação é a mesma: grandes investidores devem ficar com a maior parte das ações ordinárias. Lançar antes, ou seja, em pleno verão no Hemisfério Norte, seria correr o risco de baixo interesse.
Outro fator de pressão é a urgência do governo estadual, dono das ações, de usar os recursos para buscar equilíbrio fiscal. O governador Eduardo Leite se comprometeu a não usar os valores obtidos na venda diretamente para pagamento da folha de salários, mas já avisou que quitará pendências do passado relativas a custeio da máquina público com recursos obtidos tanto na venda do excedente quanto com a antecipação de receita da privatização de CRM, CEEE e Sulgás. É uma das formas pelas quais o governador pretende cumprir sua promessa de pagamento dos salários em dia ainda neste ano.
Para o mercado financeiro, o fato relevante da venda do excedente de ações não trouxe muitas novidades, conforme André Martins, analista de Banrisul na XP Investimentos. O fato de incluir algumas restrições, avalia, não deverá ter grande impacto no preço de venda:
– De qualquer forma, na maioria das ofertas quem ancora são os investidores institucionais, então não há grande impacto.
O governo do Estado tem 201.225.359 ações ordinárias (que dão direito a voto nas decisões, portanto representam o controle) do Banrisul. O que necessita para manter o controle acionário é de 50% mais uma ação. Poderia vender, portanto, até 100.612.679 desses papéis sem deixar de ser o "dono" do banco estadual. Escolheu deixar uma margem de segurança maior com a venda de 96.323.426, com recomenda a cautela. No final da manhã, as ações do Banrisul caíram 2%, tanto as ordinárias, que serão alvo da oferta mas têm baixíssima quantidade em negociação, quanto as preferenciais.