Bons tempos aqueles – não faz nem três meses – em que o "consenso do mercado" previa juro básico em 14,75% no final do ano. Ainda havia perspectiva de que o Banco Central (BC) executasse o choque monetário anunciado em dezembro e parasse.
Conforme o Relatório Focus publicado nesta segunda-feira (17) que precede o ato final do roteiro já apresentado pelo BC, a expectativa da maioria dos economistas consultados pela instituição segue em 15%, embora alguns economistas prevejam até 16,25% no final do ano.
Na quarta-feira (19), o Comitê de Política Monetária vai elevar a Selic em mais 1 ponto percentual, para 14,25%, a maior taxa desde outubro de 2016, portanto há oito anos e sete meses. Isso é considerado praticamente certo, por ter sido reafirmado na decisão de janeiro. Depois, o consenso se dissolve.
Surpreendente, mesmo, no Focus desta segunda, foi uma nova redução nas projeções de inflação, mesmo depois do resultado acima da expectativa da semana passada. É um pouco com essa hesitação que o BC parece pretender contar a partir da decisão de quarta-feira.
O Copom vem sinalizando que não voltará tão cedo a anunciar os próximos movimentos, fazendo o que o mercado chama de "forward guidance" (orientação à frente, na tradução literal).
O choque foi uma decorrência da combinação da decepção com o pacote de corte de gastos do governo Lula com a troca no comando do BC, que costuma cobrar um prêmio de incerteza.
A de quarta-feira será apenas a segunda reunião do Copom liderada por Gabriel Galípolo, que assumiu formalmente a presidência do BC em janeiro. Dado o choque, que não teve aprovação unânime em termos de estratégia, agora o BC quer apostar no oposto: ter algum liberdade de ação para verificar se o juro na estratosfera vai ou não moderar a atividade econômica.
Se os sinais de "calibragem" no crescimento se confirmarem, a mão do Copom poderá ser menos pesada. Mas hoje, isso não significa qualquer perspectiva de redução do juro. Só, mesmo, de uma Selic abaixo de 16% no final do ano.