Há menos de uma década, em meio a uma assustadora onda de criminalidade e violência, pareceria sandice projetar que o Rio Grande do Sul, poucos anos depois, poderia ambicionar ter um patamar inferior a 10 assassinatos para cada 100 mil habitantes. Hoje já não é um cenário improvável. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera epidêmicas taxas de homicídios acima desse limite. É a situação atual do Estado. Mas a queda paulatina dos números desde 2018 mostra ser possível apostar nessa meta.
Convém lembrar que o auge da violência, em meados da década passada, não foi uma particularidade gaúcha
Ao apresentar, na semana passada, o balanço dos seis anos do programa RS Seguro, o Palácio Piratini lembrou que, em 2017, no auge da guerra entre facções, o Rio Grande do Sul chegou a ter 31,5 homicídios para cada 100 mil pessoas. Em 2023, a relação foi reduzida para 18,5 e, no ano passado, recuou ainda mais, para 15,5, indicando ser factível almejar o propósito. Espera-se que os números da criminalidade no Estado sigam a tendência recente e, nos próximos anos, os gaúchos possam celebrar a conquista simbólica de não ter mais taxa epidêmica de homicídios, traçada como objetivo da política de segurança do Estado.
Embora a quantidade de mortes violentas tenha começado a cair em 2018, um ano antes da implantação do RS Seguro, em 2019, o programa trouxe uma contribuição inequívoca no combate não apenas aos crimes contra a vida, mas também aos furtos e roubos, como os de veículos, de cargas e ao comércio. Um Estado com menos violência e delitos em suas mais variadas formas é um lugar com melhor qualidade de vida.
Em linhas gerais, a iniciativa começou dando maior atenção para os municípios mais problemáticos, apostou na produção e na análise de dados para as ações ostensivas e preventivas, na integração entre a Brigada Militar e a Polícia Civil e em um cuidado maior com as movimentações das facções. Isso incluiu o isolamento e o envio de lideranças para presídios federais em outros Estados como forma de evitar a comunicação dos chefes com os comandados.
Entre 2019 e 2024, segundo a Secretaria de Segurança Pública, os homicídios caíram 25%, os latrocínios 58% e os feminicídios 26%. Cidades como São Leopoldo, Gravataí e Novo Hamburgo já estão com taxas inferiores a 10 assassinatos por 100 mil habitantes. É um indicativo de rumo correto da política de segurança.
Convém lembrar que o auge da violência, em meados da década passada, não foi uma particularidade gaúcha. Os confrontos entre facções produziram mortes e uma série de outros crimes em todo o Brasil. Em seguida, houve uma espécie de aquietação, como se os líderes compreendessem que a guerra intestina prejudicava os seus negócios ilícitos, como o tráfico de drogas. Mas ao mesmo tempo existiu, deve-se ressaltar, reforço das políticas de segurança. Conforme o Ministério da Justiça, o país teve 60,3 mil homicídios em 2017. Os números caíram todos os anos seguintes, com exceção de 2020. No ano passado, foram 38,7 mil. Mesmo menores, ainda são números aterradores. O país e o Rio Grande do Sul, portanto, ainda têm muito o que evoluir no combate à criminalidade e às mortes violentas intencionais.