A combinação de recessão forte e recuperação lenta faz da atual década a pior para a economia brasileira desde o início do século passado. De 2011 a 2018, o PIB do país cresceu em média apenas 0,6%, resultado muito abaixo inclusive do período que ficou conhecido como década perdida. De 1981 a 1990, a atividade no país avançou 1,6% ao ano. Era a menor variação observada até agora (veja gráfico abaixo).
— É o pior número da história neste intervalo de quase 120 anos — atesta Marcel Balassiano, pesquisador sênior da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas, lembrando que, apesar do avanço do PIB em 1,1% em 2017 e 2018, no último quadriênio há um recuo médio de 1,2%.
Os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, nestas 12 décadas, a melhor taxa de crescimento foi dos anos 1970, de 8,6%.
O desempenho do decênio atual pouco melhoraria inclusive se for confirmado crescimento do PIB de 2,48% neste ano e 2,65% em 2020, conforme previsões de analistas consultados pelo Boletim Focus, do Banco Central (BC). Neste caso, a taxa média subiria de 0,6% para 1%.
Balassiano avalia que é difícil comparar os dois períodos. Nos anos 1980, a crise foi resultado da crescente dívida externa, expansão da dívida pública e hiperinflação. As dificuldades atuais têm como raiz o desequilíbrio fiscal, com crescimento acelerado da dívida bruta, resultado da geração de déficits primários consecutivos. A turbulência política se encarregou de tornar a retomada ainda mais lenta.
O pesquisador aponta que, como o grande nó é o fiscal, a reforma da Previdência seria o primeiro passo para reiniciar a caminhada rumo a um crescimento mais robusto e sustentável.