Indicado para a presidência do Banrisul, Cláudio Coutinho tem dado expediente no banco como conselheiro enquanto espera o processo de aprovação para o cargo, que tem de passar por Banco Central e Assembleia Legislativa. Fica em Porto Alegre de segunda a quinta, e está buscando apartamento. Prevê que deve assumir o cargo até maio. Enquanto isso, tem ouvido ex e atuais funcionários do banco estadual e integrantes do sistema financeiro. Ex-diretor do BNDES, um de seus planos é fazer financiamentos conjuntos entre o banco de investimento e o Banrisul.
Quais serão seus desafios no Banrisul?
A primeira missão que o governador me deu é de que o banco deve aumentar a atuação em áreas em que não tem atuação expressiva em consonância com a economia do Rio Grande do Sul. Temos de aumentar expressivamente nossa participação no agronegócio, no financiamento de investimentos no Estado e na área de exportação. São três segmentos em que o banco tem presença muito aquém das que tem em outros produtos. Além de obviamente continuar todo o trabalho que já vem sendo feito de digitalização, da maneira como o banco se relaciona com seus clientes. Teremos de fazer isso de forma muito mais econômica e eficiente, usando os mecanismos digitais.
O avanço no agronegócio será mais fácil ante a intenção de reduzir do Banco do Brasil?
Para nós, é uma oportunidade de ocupar esse espaço, inclusive para não deixar o agricultor gaúcho desatendido em termos de crédito. Sabemos que temos de competir com bancos que tem forte atuação no Estado, como Sicredi, mas é um presente.
Como vai usar sua especialidade em gestão de risco?
O Banrisul é um banco muito ajustado em relação a risco. Tem risco de crédito muito baixo, porque a carteira está pulverizada em pessoas físicas. Tem pouca concentração em empresas. O grande risco é um certo descasamento estrutural, porque empresta a taxa pré-fixada para pessoas físicas e empresas e capta no pós-fixado. Estamos tratando de minimizar esse risco, que não é alto. A melhor solução provavelmente será fazer hedge (operação financeira que compensa o risco). Inclusive, tenho de aproveitar que o mercado está muito otimista e fazer hedge, o que provavelmente não será muito caro.
Os planos incluem privatização?
Minha conversa com o governador é a de compromisso de não privatizar o banco, isso está claro. Minha missão é fazer o banco crescer nas linhas que o governador indicou e melhorar a governança no que for possível.
Qual a melhor operação para o banco, a venda de excedentes do controle ou a da administradora de cartões?
Estou me inteirando, mas ainda não tenho opinião. No caso da venda de excedentes, é uma decisão que não passa pela gestão do Banrisul. É com o governador e a Fazenda, é um investimento do Estado em última instância. No caso da cartões, sim, seria uma decisão da administração. Já li muito sobre o assunto, mas francamente ainda não consegui formar uma opinião. Tem prós e contras.
Qual será a estratégia para aumentar o financiamento de investimentos?
É fazer parceria com o BNDES, mas não no sentido de só usar o funding, mas de fazer operações conjunta e dividindo o risco para que a gente consiga passar a metodologia do BNDES para o Banrisul. Seria um trabalho muito interessante, dividindo o risco. Várias pessoas da área técnica do BNDES trabalharam comigo, há muita competência para auxiliar. O BNDES também está diminuindo muito os desembolsos, é uma excelente oportunidade para o Banrisul aproveitar essa capacidade. A agenda do governador de fazer concessões vai demandar muito investimento de infraestrutura aqui.
Não surgirão críticas ao fato de financiar concessões para agentes privados com recursos públicos?
É uma concessão. São estradas que já existem, nas quais o concessionário terá de fazer investimentos. Isso vai movimentar a economia do Rio Grande do Sul, vai gerar emprego, contratos. A melhora na infraestrutura vai gerar economia para o Estado. Não haverá venda de patrimônio público financiado, como o BNDES fez nos anos 1990. Vamos financiar o investimento e usar a modelagem que o BNDES conhece bem. Também vamos cobrar que o agente privado coloque dinheiro na mesa também, não se financia 100%.
Os papéis dos três bancos públicos gaúchos estão definidos?
Sei o que vou fazer, sei da missão que me passaram, e vou seguir à risca. Tanto BRDE quanto Badesul tem limitações de balanço.
O Banrisul tem recursos suficientes para tudo isso?
Provavelmente, se continuar esse crescimento de crédito será preciso fazer alguma operação para reforçar o capital. Mas é possível fazer por meio de instrumentos híbridos de capital e dívida, não por venda de ações. Se continuar nesse ritmo, em três ou dois anos será preciso fazer algo assim.