Assim como perdeu a oportunidade de criar ambiente distendido no Congresso às vésperas da entrega da proposta de reforma da Previdência, o Planalto tira foco do debate incendiado por algumas regras com a atrapalhada atuação na fronteira da Venezuela. O governo de Maduro balança e pode cair a qualquer momento, mas essa é uma decisão dos venezuelanos, maiores vítimas dos desmandos do autocrata que assume ares cada vez mais tirânicos. Não cabe ao Brasil fazer provocações fronteiriças travestidas de ajuda humanitária. Não atenua o problema dos necessitados nem será o golpe que faltava para Maduro cair. Até quem entende pouco de jogos de guerra vê a inocuidade da mobilização.
Mais habituada a cenas reais de campos de batalha, a cúpula militar que cerca o presidente Jair Bolsonaro pede cautela. O que começou como provocação inspirada pelos Estados Unidos evoluiu para escaramuça e provocou mortes. Um passo em falso, e o Brasil corre o risco de se meter em uma situação inadministrável. E tudo isso menos de dois meses depois do início do governo que, na campanha, anunciava-se reformista na economia e focado nos interesses nacionais nas relações diplomáticas.
Quanto Bolsonaro cria gabinete de crise para responder à óbvia reação venezuelana, permite deduzir que, entregue a proposta de reforma da Previdência, a tarefa agora cabe ao Congresso. No entanto, deixou a base aliada atarantada com a demissão atabalhoada, na Secretaria-Geral da Presidência, de um de seus principais articuladores e, agora, movendo o foco do front interno da disputa de versões sobre o projeto para o externo alimentado a tiros a esmo e pedradas.
Sem o envolvimento direto do presidente, para reforçar a prioridade que, supostamente,
a reforma tem para o governo, será ainda mais difícil garantir a aprovação no tempo e
no tamanho que as mudanças na Previdência precisam ter. O palco de guerra mais importante para Bolsonaro é em Brasília, não em Pacaraima (RR).