Na véspera da chegada ao Congresso da proposta da mais importante reforma do atual governo, a revelação de áudios trocados com Gustavo Bebianno é um constrangimento para o presidente Jair Bolsonaro. Se o conteúdo das declarações não o compromete com malfeitos, a constatação óbvia de que o agora ex-ministro foi removido do cargo sob falso pretexto eleva a tensão na relação com o Legislativo. Em consequência, vai fazer o preço da reforma aumentar.
Se havia dúvidas, a derrota em um assunto banal – o pedido de urgência para votar projeto que suspende o decreto presidencial que ampliou sigilo sobre dados públicos –, – por 366 a 57 – dá uma mostra do que espera o governo. O custo vai se traduzir em três formas: no ajuste a ser feito nas regras da Nova Previdência, em cargos e outros benefícios que serão exigidos em troca de apoio, e em tempo de aprovação. A agência de avaliação de risco Moody’s previu para o terceiro trimestre, o Itaú Unibanco esticou até novembro.
Especialistas em Previdência avaliam que os maiores alvos de disputa nas regras serão idade mínima – para menos –, prazo de transição – para mais –, condições para aposentadoria rural e Benefício de Prestação Continuada (BPC), concedido a idosos e deficientes sem outra fonte de renda. Como esse é um pagamento com característica de seguridade social, há suspense sobre como a equipe econômica, já manifestou desejo de separar Previdência e seguridade, vai tratar o assunto.
Quando mais o Congresso desidratar a proposta que o ministro da Economia, Paulo Guedes, ambicionava trilionária – projetava economia de R$ 1 trilhão em 10 anos –, maior será o custo da reforma. Também haverá forte pressão, com o consequente aumento da conta, para aliviar um dos principais eixos das mudanças, o tratamento equilibrado entre empregados privados e funcionários públicos. Próximas dos deputados, as corporações de servidores já estão vestidas para a batalha. O setor público representa quase dois terços do déficit total, conforme dados de Pedro Neri, um dos mais ativos defensores da reforma. Deve responder também por dois terços da resistência.