Havia expectativa de que, após a primeira reunião ministerial, realizada ontem, fosse aberta a temporada das medidas simbólicas da inversão de sentido do novo governo federal. É uma projeção legítima, uma vez que Jair Bolsonaro se elegeu amparado no bordão de que mudaria "tudo isso aí, tá ok?".
O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, chegou a falar em um anúncio a cada dois dias. Fora a "despetização" – demissão sumária de todos os servidores não estáveis ligados aos governos Lula e Dilma em sua pasta –, ainda não houve publicação no Diário Oficial da União que impressionasse os brasileiros. Ontem, só saiu mais um aceno: o da mudança nas regras de posse de armas até a próxima semana. Ao que se sabe, as medidas existem, e os atos legais estão redigidos. Falta consenso sobre quais anunciar para não passar a imagem errada da nova administração.
Depois do surpreendente discurso do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, de manter a capitalização da Eletrobras, não houve manifestação que mobilizasse o mercado. Ontem, bolsa e dólar andaram de lado, à espera, com variações de 0,5% no câmbio e 0,36% no Ibovespa. Em oposição, a cada dia é necessária uma declaração – ou mais – de esclarecimento.
Ontem, além do desmentido do presidente da Caixa, Pedro Guimarães, sobre juros mais altos no crédito imobiliário, houve a inesperada promoção de Russell Mourão, filho do vice-presidente da República, no Banco do Brasil. Seu presidente, Rubem Novaes, um dos Chicago Oldies de Paulo Guedes, afirmou que a decisão tem "mérito". Pode ter, mas passa o sinal errado. As atividades dos filhos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aceleraram o desgaste do pai. Em um governo eleito para ser a antítese de "tudo isso aí", é ainda mais contraproducente. Esperemos as medidas.