As ações da Eletrobras têm alta de cerca de 15,5% no final da manhã desta quarta-feira (2), depois que o almirante Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior, novo titular do Ministério de Minas e Energia, surpreendeu na solenidade de transmissão. Ao receber o cargo de Moreira Franco, afirmou:
– Ainda no setor elétrico, sempre se levando em consideração o interesse público, se dará prosseguimento ao processo em curso de capitalização da Eletobras – disse o almirante,
que antes coordenava o projeto do submarino nuclear, estimado em mais de R$ 30 bilhões.
Durante a campanha, o então candidato Jair Bolsonaro chegou a afirmar que seus conselheiros militares eram contrários à venda do setor de geração de energia elétrica, principal ativo da Eletrobras. Ao usar a palavra "capitalização" em vez de "privatização", o almirante Costa Lima deixa uma margem de dúvida, mas anima o mercado financeiro porque, afinal, haverá venda de ações. A dúvida, agora, passa a ser a eventual restrição a alguma área específica da Eletrobras, o que exigiria cisão da empresa.
Também anima o mercado o convite do almirante para que Wilson Ferreira Júnior, atual presidente da Eletrobras, permaneça no cargo. Ferreira é um defensor da privatização da companhia. Na visão do mercado, a venda de ações é a única forma de sobrevivência para a estatal, que tem dívida estimada em R$ 45 bilhões, portanto é considerada virtualmente quebrada. O processo de privatização foi iniciado em 30 de novembro passado, mas não avançou por pressões políticas.
O setor de energia elétrica no Brasil enfrentava curto-circuitos desde antes da famigerada MP 579, que bagunçou de vez a fiação e causou blecautes pontuais. Há grande quantidade de estatais praticamente quebradas e um valor multibilionário em passivos que podem sair do armário a qualquer momento. O mais recente surpreendeu os brasileiros no ano passado e representou reajustes nas contas de luz de até 40% – inclusive na CEEE. O consultor Rafael Herzberg, que atua tentando ajudar grandes consumidores de energia a driblar os efeitos desse caos, afirma que o segmento simplesmente "não inspira confiança".