A indicação de Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior para o Ministério de Minas e Energia pegou o setor elétrico de surpresa. O almirante é diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha e fã do projeto do submarino nuclear, estimado em mais de R$ 30 bilhões. O aspecto mais positivo da escolha é o fato de não ser um político, especialmente da área de influência de Edison Lobão, que controla nomes e cargos há mais de duas décadas – com resultados não exatamente promissores.
O setor de energia elétrica no Brasil enfrentava curto-circuitos desde antes da famigerada MP 579, que bagunçou de vez a fiação e causou blecautes pontuais. Há grande quantidade de estatais praticamente quebradas, das quais a mais importante é a Eletrobras, e um valor multibilionário em passivos que podem sair do armário a qualquer momento. O mais recente surpreendeu os brasileiros no ano passado e representou reajustes nas contas de luz de até 40% – inclusive na CEEE. O consultor Rafael Herzberg, que atua tentando ajudar grandes consumidores de energia a driblar os efeitos desse caos, afirma que o segmento simplesmente "não inspira confiança".
Futuro ministro de Bolsonaro, almirante é o catequizador da Marinha para assuntos nucleares.
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Estarão no organograma do almirante as duas estatais em situação mais delicada do Brasil. A Eletrobras tem dívida estimada em R$ 45 bilhões – superior ao valor total previsto do submarino nuclear –, é considerada virtualmente quebrada e está no centro de um processo de privatização iniciado há exatamente um ano que, mesmo visto como única chance de sobrevivência da companhia, não avança por pressões políticas. O presidente eleito, Jair Bolsonaro, tem afirmado que não quer privatizar a área de geração de energia por considerá-la "estratégica" – uma visão muito aproximada da que predomina entre os militares como Bento Costa Lima.
Embora a dívida da Petrobras seja ainda maior – cerca de R$ 300 bilhões –, a estatal do petróleo está em melhor forma do que a de energia. Acumula lucro de R$ 23,6 bilhões de janeiro a setembro e não é mais vista como insolvente, como chegou a ocorrer no auge do escândalo da Operação Lava-Jato. Mesmo assim, é claramente a joia da coroa do plano de privatizações do futuro superministro da Economia, Paulo Guedes. Sem contar que é alvo de uma polêmica inflamável relacionada à política de preços dos combustíveis.