Quatro estatais são o eixo comum de dois temas programáticos opostos. Embora Jair Bolsonaro (PSL) hesite ante a “privatização total” de seu guru Paulo Guedes, a venda de estatais é central em seu discurso. Fernando Haddad (PT) prefere “desprivatizar”. O curioso é que ambos querem manter, em parte ou no todo, Petrobras, Eletrobras, Caixa e Banco do Brasil. O petista inclui na sua lista os Correios, que Bolsonaro admite extinguir no caso de “ninguém querer comprar”.
Jair Bolsonaro (PSL)
Reduzir a dívida
No programa de governo de Jair Bolsonaro, iniciativas de privatização são citadas 10 vezes, todas de maneira vaga. A “linha-mestra” da venda ou extinção de estatais, como caracteriza o texto, é “o aumento na competição entre empresas”. O programa de desestatização “ágil e robusto” ficaria a cargo do BNDES. Determina também que todos os recursos, inclusive de concessões, serão usados para a redução da dívida pública.
Tese e antítese
A questão não é “privatizar ou não privatizar” a questão entre Bolsonaro e Guedes. É quanto privatizar. O candidato afirma que acolheu “90% das ideias dele” e sustentou que “o mercado vai gostar do nosso plano de privatização”, mesmo depois de ter provocado forte queda nas ações da Eletrobras ao dizer que não venderia a área de geração da empresa. No final de semana, afirmou que vai vender primeiro “as quase 50 estatais criadas pelo PT, como a do trem-bala e a TV do Lula”. As demais, afirmou, serão privatizadas “com responsabilidade”.
Estatismo estratégico
Ao justificar por que não quer vender Banco do Brasil, Caixa, Furnas e o setor elétrico, Bolsonaro afirmou que “o Estado tem de estar com aquilo que é essencial e estratégico em suas mãos”. É uma declaração fora do discurso liberal de Guedes, reforçada pela resistência à participação de chineses em eventuais leilões, “também preocupação de (Donald) Trump”. A diferença é o poder de barganha dos Estados Unidos e do Brasil frente à China, maior comprador de produtos básicos do Brasil, como soja e minério de ferro.
Fernando Haddad (PT)
Chance para PPP
As 10 vezes em que menções a privatização (ou variantes) aparecem no programa de Fernando Haddad equivalem a 10 negações. O candidato quer atuar “na defesa do serviço e do patrimônio públicos”. Em entrevistas, afirma que Petrobras, Eletrobras, Banco do Brasil, Caixa e Correios são “intocáveis”. Embora só citado uma vez no programa, o mecanismo de parceira público-privada é a opção que pode se expandir, afirma o candidato, que quer “defender” o petróleo do pré-sal e Embraer.
*Com Anderson Mello