Conhecido pela discrição, o atual presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, não fez qualquer comentário sobre propostas um tanto heterodoxas para o câmbio da equipe do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL). Na primeira semana da transição, ainda semiorganizada, o entorno do futuro governo falou em venda de reservas em caso de alta drástica do dólar e em meta para a moeda.
Futuro superministro da Economia, Paulo Guedes foi tão explícito ao descrever em que circunstância estaria disposto a vender reservas que analistas entenderam seu exemplo – cotação entre R$ 4,50 e R$ 5 – como o teto para a moeda americana.
No domingo, longe do Brasil, mas ciente de que suas observações seriam ouvidas aqui, Ilan defendeu reservas e câmbio flutuante – que não admite tetos ou pisos. Em Jerusalém, abordou a experiência brasileira com o sistema de metas de inflação para defender dois de seus pilares.
O uso do excedente das reservas é alvo de debate cauteloso entre economistas responsáveis. Não é considerado um absurdo, porque a compra de divisas elevou o endividamento no passado e sua manutenção pesa no Tesouro.
Mas meta para a cotação é considerada, por ampla maioria de analistas, contrária ao regime de câmbio flutuante e aliada de especuladores. Como inibe a flexibilidade, permite apostas sobre o momento em que se chegará ao limite.
Uma das primeiras especulações do mercado sobre a equipe econômica para além de Paulo Guedes foi sobre o nome para o BC. Criou-se a expectativa de manutenção de Ilan, com independência formal da instituição e mandato descasado da Presidência. Nesse desenho, Ilan ficaria ao menos mais dois anos. Supunha-se, mas ele fez questão de deixar claro que a permanência estará condicionada a política monetária e cambial sem heterodoxias e improvisações.