Como temia o ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos Roberto Abdenur, há risco de que a política externa do governo Bolsonaro não elimine o que o presidente eleito chama de "viés ideológico". A confirmação de Ernesto Araújo para o Ministério das Relações Exteriores coloca o Brasil na estranha posição de ter um chanceler contrário ao globalismo. Em seu blog, chamado Metapolítica – que tem como subtítulo "Contra o Globalismo", Araújo se apresenta assim:
"Tenho 28 anos de serviço público e sou também escritor. Quero ajudar o Brasil e o mundo a se libertarem da ideologia globalista. Globalismo é a globalização econômica que passou a ser pilotada pelo marxismo cultural. Essencialmente é um sistema anti-humano e anti-cristão. A fé em Cristo significa, hoje, lutar contra o globalismo, cujo objetivo último é romper a conexão entre Deus e o homem, tornado o homem escravo e Deus irrelevante. O projeto metapolítico significa, essencialmente, abrir-se para a presença de Deus na política e na história."
Araújo tem todo o direito de professar sua fé, mas tanto as relações meramente diplomáticas quanto as comerciais exigem uma visão global, que não tem relação com qualquer tipo de marxismo. Abdenur, que é crítico da "diplomacia petista" – foi vítima do que chama de visão "terceiro-mundista" – teme que, em vez de arquivar o viés ideológico, o futuro governo de Jair Bolsonaro apenas vire sua direção.