Com frequência comparado ao ex-presidente Fernando Collor, o candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, resolveu colar na imagem do antecessor ontem ao afirmar, em entrevista coletiva, que vai dar um "ippon na corrupção, na violência e na ideologia". No judô, o ippon é um golpe decisivo, que define a vitória.
A comparação foi feita sob a inspiração da presença do lutador de jiu-jítsu Carlos Gracie, a quem o candidato chamou de "ídolo intergalático". Descontada a dificuldade de saber do que consistiria um golpe final na "ideologia", Bolsonaro acabou evocando um modelo de alto risco. Antes da eleição de 1989, Collor disse que daria um "ippon" na inflação e, para executar o movimento, sequestrou recursos da poupança de todos os brasileiros que tinham, na época, pequena quantidade de recursos aplicado na modalidade mais conservadora de aplicação financeira. Parte da conta ainda está sendo paga, e por todo os contribuintes.
O Plano Collor 2, adotado em 1991, está entre os quatro programas que buscavam um “golpe decisivo” contra a inflação. Todos fracassaram e integram um acordo para recuperar as perdas provocadas aos poupadores, agora consideradas ilegais. Se o Brasil precisa de energia no combate a distorções, dispensa a retórica empregada por Bolsonaro na campanha. Um de seus focos, ao longo da entrevista de ontem, foi suavizar declarações agressivas. Disse que não quer "fazer guerra" e que o Estado nada tem a ver com "opção" sexual.
Caso seja eleito no domingo, o candidato terá de superar o mal-estar provocado por declarações sobre tortura e ditadura. Não só no Brasil, também no Exterior. Ontem, duas publicações britânicas consideradas referenciais para o mundo dos negócios, a revista The Economist e o jornal Financial Times, voltaram a fazer críticas duras.
A revista, que já o havia identificado "a nova ameaça da América Latina" na capa, afirmou que o Brasil revive o "casamento profano entre economia de mercado e autoritarismo político" O FT mencionou a tese de que as declarações absurdas sejam "apenas conversa" mas pontuou que "poucas democracias podem conter um autocrata com forte mandato". O ex-ministro de Collor Marcílio Marques Moreira, em entrevista à coluna, afirmara que as maiores diferenças de Bolsonaro em relação ao ex-presidente são o apreço à democracia e a visão de mundo.