Se há um diagnóstico consensual entre os dois candidatos que disputam a eleição presidencial é de que o Brasil enfrenta grande atraso nos investimentos em infraestrutura – transporte, energia, abastecimento. E que não há recursos públicos suficientes para recuperar o atraso. Cláudio Frischtak, especialista no tema, vê diagnóstico correto mas escassos detalhes. Adverte, porém, sobre dois riscos. No PT, considera um erro destinar 10% das reservas cambiais para bancar obras.
– Geraria grande incerteza, com risco de aumento no juro e, em decorrência, no custo de capital para financiar os projetos.
Critica restrições de Bolsonaro a compra de estrutura existente por chineses:
– Negar capital estrangeiro, não importa se da China ou da Cochinchina, que vem ao Brasil tomar risco e modernizar a infraestrutura não faz sentido. É um nacionalismo não muito inteligente. Quem tem conhecimento mínimo sabe que a infraestrutura existente está deteriorada.
Jair Bolsonaro (PSL)
Palavras-chave
“Desburocratizar, simplificar, privatizar, pensar de forma estratégica e integrada” são as palavras-chave do programa para o segmento. A meta é deixar de ser gargalo para se tornar solução. A promessa é entregar “baixo risco regulatório” para atrair investimentos. No entanto, o candidato já avisou que não está interessado em capital chinês – o que mais tem apetite pelo segmento no mundo.
Meta ambiciosa
A melhora de portos e a integração com as malhas ferroviária e rodoviária deve reduzir custos e prazos para embarque e desembarque. O que surpreende é o objetivo: chegar, “ao final do governo”, a patamares similares aos do porto de Busan, na Coreia do Sul, de Yokohama, no Japão e de Taiwan. A dúvida é para quando o programa prevê o final do governo. Em quatro anos, seria muito difícil.
Limites estratégicos
A indicação do general Oswaldo Ferreira para liderar o plano de governo adicionou incerteza sobre a mudança de orientação do candidato, entre as posições nacionalistas e estatizantes do passado e a recente conversão ao liberalismo pela mão de Paulo Guedes. Ao justificar por que a Transpetro não seria privatizada, outro economista da equipe, Paulo Coutinho, afirmou que “os militares entendem que é questão de segurança nacional. Numa guerra, você pode usar essas embarcações”.
Fernando Haddad (PT)
Concessões
O programa prevê que a expansão da “parceria com o setor privado por meio de concessões e outras parcerias público-privadas, garantindo contratos que propiciem investimentos com o menor custo ao usuário, assegurando os investimentos necessários à infraestrutura nacional”. Mas inquieta ao mencionar criação de “fundo de financiamento da infraestrutura, composto por pequena parcela redirecionada das reservas internacionais, recursos do BNDES e recursos privados”.
Reforma regulatória
O programa contempla uma demanda do setor privado, ao acenar que “aperfeiçoará os diversos marcos regulatórios, visando criar um ambiente cada vez mais competitivo na prestação de serviços eficientes e de qualidade e promovendo a modernização das operações e profissionalização dos operadores”. Neste caso, o desafio é saber qual a reforma prometida.
Estatismo estratégico
Nos transportes, prevê “recuperar, modernizar e expandir a infraestrutura” com expansão da parceria com o setor privado com foco no usuário”. Mas usa uma expressão que precipitou a oposição ao governo Dilma Rousseff: “modicidade tarifária”. Menciona a retomada do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que Frischtak considera “um desastre” do ponto de vista da qualidade do investimento e alocação de capital.