Causou surpresa a proposta de Paulo Guedes, coordenador econômico do candidato do PSL, Jair Bolsonaro, de criar um imposto parecido com a CMPF para financiar a Previdência. Contrariou a expectativa tanto em relação a sua própria trajetória liberal quanto diante de declarações anteriores do presidenciável. Causou celeuma no mercado e entre aliados, que chegaram a desautorizá-lo. Depois de alcançar R$ 4,16 pela manhã, com temor da polarização desenhada em pesquisas, o dólar fechou em discreta baixa, a R$ 4,12. Em vez se subir, como seria esperado em dia de alívio no Exterior, a bolsa teve leve recuo, de 0,19%.
Em conversas informais, operadores avaliam que o mercado tentou “não mostrar desconforto com Bolsonaro”, ao não exibir reação forte a Guedes. Em 2015, quando o então ministro da Fazenda Joaquim Levy propôs a volta da CPMF, o mundo caiu.
Mais do que a recriação de um novo imposto, por si só desconfortável para o eleitorado de Bolsonaro, ficou em xeque a relação do candidato que admite desconhecer temas econômicos e sua referência para o assunto – seu “posto Ipiranga”, para quem pergunta tudo, como o chamou em entrevista.
– Se Guedes e Bolsonaro começarem a entrar em conflito ainda antes da eleição, vai pesar na bolsa – avalia André Perfeito, economista-chefe da corretora Spinelli.
Se divergências entre qualquer presidenciável e formuladores de sua proposta econômica teriam peso, no caso de Bolsonaro, que tem em Guedes mais do que um conselheiro, perturba mais. O economista foi uma espécie de fiador que amainou preocupações do mercado e de empresários com o passado nacionalista e estatizante do candidato do PSL. As dúvidas sobre a firmeza da relação também vão crescer.
20% para todos
Não satisfeito em sacudir o espantalho da CPMF em praça pública, o economista Paulo Guedes, que assessora o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, ensaiou outra proposta tributária polêmica, a unificação da alíquota do Imposto de Renda (IR) em 20%. Em um país com carga tributária extremamente regressiva – quem ganha menos paga proporcionalmente mais –, retira de cenário uma das poucas incidências progressivas de imposto. Apesar da falta de correção, a tabela do IR embute certa justiça tributária ao taxar menor renda com menor alíquota.