Não é um ataque especulativo como os passado, mas a crise cambial no Brasil passou do ponto da mera turbulência no dia a dia do mercado. Na sexta-feira, o Banco Central (BC) decidiu se manifestar só depois de o dólar passar pela sexta alta consecutiva, subir para R$ 3,77, recuar duas casas depois da vírgula e fechar em R$ 3,74.
O comunicado do BC veio tarde e, talvez, não seja suficiente.
O anúncio foi de aumento no volume de oferta do instrumento que oferece proteção contra variação da moeda americana, o chamado swap cambial. É uma espécie de seguro, ou hedge. Oferece pagar a oscilação do dólar, mais um prêmio, e cobra a diferença da taxa de juro durante o contrato. Se nada mudar, é um ótimo negócio.
O investidor se protege da disparada no câmbio, ganha um extra e ainda não tem de “devolver” nada. Isso se o juro básico seguir parado até que passe a tempestade lá fora, com rajadas aqui dentro. Para o BC, a grande vantagem da ferramenta é o fato de não mexer nas reservas internacionais. Feitas as contas, a operação é liquidada em reais.
Para encarar o vendaval de verdinhas em que o Brasil mergulhou há duas semanas, o BC tem muro de proteção de US$ 380 bilhões, a maior parte em títulos do Tesouro dos Estados Unidos, depositados lá fora.
O problema é que paredões como esse são sólidos enquanto não sofrerem qualquer rachadura. Se alguém ouvir um “crack”, vai querer testar a muralha.
Para que os investidores se contentem com swaps cambiais, não com dólares de verdade, precisam ter certeza de que a Selic não vai se mexer. Se subir, é bom lembrar, vão ter de pagar no final do contrato. No comunicado de sexta-feira o BC reafirmou que “impactos de choques externos sobre a política monetária são delimitados (...) a propagação a preços da economia (...). Traduzindo: o juro só sobe se a inflação der pinote, o que é improvável, com alta média de preços muito discreta, abaixo do piso da meta e economia em ritmo lento. O BC chamou a turma à racionalidade, diante da falta da característica entre quinta e sexta-feiras. Espera que a pausa do final de semana e o anúncio façam efeito, mas será testado.