Depois do susto de quinta-feira (17), o mercado teve novo dia tenso nesta sexta (18). O dólar chegou a ser negociado a R$ 3,77, mas recuou para fechar em R$ 3,74. É o maior patamar desde março de 2016. Mesmo assim, a semana acumulou alta de 3,7%, em movimento incomum. A bolsa também fechou com recuo de 0,65%, mas chegou a perder 2% ao longo do dia.
O dólar se valoriza em relação a várias moedas devido à projeção de alta do juro nos Estados Unidos, provocada por crescimento acima do previsto e pressões inflacionárias. Com perspectiva de melhor remuneração em moeda americana, investidores desmontam posições em países que, por terem maior risco costumam oferecer maior remuneração, em forma de juro. Nesses períodos, o Brasil costuma ser mais afetado por ter um mercado em que é fácil de entrar – e de sair – para investidores internacionais.
À habitual reação acima da média, somou-se um erro de comunicação do Banco Central (BC), que deu sinais de nova redução do juro básico, mas manteve a taxa. Além de provocar perdas para alguns agentes, a decisão desarticulou as perspectivas sobre a avaliação de cenário do BC. Como o mercado financeiro é movido a expectativa, reagiu mal. Até agora, apesar de ter sinalizado que agiria para conter variações exageradas da moeda americana ante o real, o BC não adotou ferramentas novas para alcançar esse objetivo. A descoordenação ajudou especuladores a encontrar formas de ganhar com a incerteza.
Tudo desemboca em instabilidade, tanto para empresas que têm dívidas e custos em dólar quanto para os preços. Variam com o dólar os preços dos combustíveis – gasolina e diesel subiram cinco vezes na semana –, de vários produtos com matéria-prima ou componentes importados – de pão a eletroeletrônicos – e até a energia produzida em Itaipu. Por conta dos impactos, houve pedidos explícitos para que o BC comece a atuar de maneira mais drástica para frear a alta do dólar. Até agora, a instituição só usou instrumentos tradicionais, mas tem um arsenal de reservas de US$ 380 bilhões que pode ser acionado em caso de necessidade.
Além de afetar câmbio e bolsa, o desconforto no mercado causou impacto na taxas de juro futuras. Por conta disso, o BC chegou a interromper as negociações com títulos do Tesouro Direto. Não é uma decisão usual, porque esses instrumentos se tornaram importantes formas de aplicação no Brasil. Investidores e especuladores aproveitam o estresse para testar a disposição do BC em frear a alta do dólar.