A cotação do dólar no Brasil roçou os R$ 3,50 (R$ 3,46) nesta terça-feira (24), com renovadas inquietações sobre aumento de inflação e juro nos Estados Unidos. Mas qual é o instrumento que transmite essas incertezas para o Brasil? É o risco Brasil, responde o ex-diretor do Banco Central José Júlio Senna, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV):
– Como o cenário externo tem sido o fator que mais influencia a percepção de risco do Brasil, a mudança desse cenário também causa impacto.
Senna lembra que o principal indicador atual desse risco, o prêmio dos Credits Default Swaps (CDS, espécie de seguro contra calotes), subiram de 145 para 170 em poucos dias. E detalha:
– Se o país é considerado mais arriscado, os investidores têm menos interesse. Se a percepção de risco sobe, os juros reais sobem, as aplicações em bolsa e em renda fixa são afetadas, e o câmbio sofre pressão. Tem vento externo mandando no Risco Brasil.
Senna avalia que há "grau de preocupação relevante" sobre a inflação nos EUA, o que levaria o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) a elevar juro de forma mais rápida. Detalha que a inflação baixa dos primeiros meses de 2017 está sendo substituída por taxas mais elevadas.
– Se estou fazendo projeções aqui, imagina como está a turma por lá – brinca, para explicar a tensão dos últimos dias.
No pior cenário de Senna, a inflação mensal saltaria da média de 0,15% para 0,25%. Para americanos, um susto. Para brasileiros, parece pouco para justificar tamanha pressão.
– Se o Fed for mais agressivo, o dólar se fortalece, o prêmio de risco no Brasil sobe, e a taxa de câmbio se deprecia. É o prêmio de risco que manda – insiste.
Foi acompanhando a alta no risco que o dólar saiu da faixa de R$ 3,15 para perto de R$ 3,50, observa. Mas Senna avalia que, em uma análise mais fria, o núcleo da inflação nos EUA não sugere estresse, portanto a onda de pressão ainda pode se diluir.