Depois da tensão em torno do desfecho da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a sensação de alívio dos agentes econômicos pode ajudar a fazer negócios de curto prazo, mesmo em uma semana que se esboça difícil. Há vácuo de poder no Planalto, com um novo comando da Fazenda atuando em clima hostil – a base aliada do presidente Michel Temer torcia contra o substituto de Henrique Meirelles por sua melhor fama. Nem o novo ministro, Eduardo Guardia, tem posse marcada, nem toda sua equipe é conhecida. Sem contar os tremores que, de fora do país, podem provocar réplicas aqui.
Na sexta-feira, a bolsa de Nova York, espécie de guia para investidores no Brasil, fechou com baixa de 2,34% no índice Dow Jones, o mais tradicional, e de 2,19% no S&P 500, o mais abrangente. Só esse indicador teve sete quedas acima de 2% de janeiro até agora. Em 2017, nenhuma. É um sinal de alerta no monitor.
Nesses tempos, passar sem grandes dramas por um episódio complexo do dramático cenário nacional dá fôlego a tentativa de retomar vida normal. Mesmo depois do fim oficial da recessão de mais de dois anos, o nível interno de incerteza é elevado.
E não só porque uma eleição pode redefinir supostos pactos tácitos entre governo e população. Economistas gostam de imaginar que, a essa altura, há consenso sobre a necessidade de reformas como a da Previdência. Seria conveniente que lessem com mais atenção pesquisas de avaliação do governo Temer. Na afobação de aprová-las com rapidez, o Planalto errou vezes seguidas na embalagem das mudanças.
Por seus próprios erros, ajudou a criar resistência onde poderia ter gerado entendimento. Tem mais sete meses. Em um país previsível, não daria tempo de causar novos estragos. No Brasil da segunda década do século 21, nem disso se pode ter certeza.
A prisão de Lula é o fecho de um capítulo, mas a obra da Operação Lava-Jato está aberta. As investigações tiveram custo: destroçaram o setor de construção pesada e ceifaram milhares de empregos. Era o preço a pagar para fazer a corrupção endêmica retornar à epidemia.
Se a responsabilização não alcançar outros atores, não terá valido o preço que os brasileiros pagaram. Se não forem acelerados os julgamentos de investigados com foro privilegiado, terá sido feita a prisão mais cara da história. Não pode bastar.