Foi um dia atípico na conturbada relação do mercado financeiro com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar da expectativa de que bolsa subisse e dólar cedesse, ocorreu o contrário. O motivo foi um presidente no exercício do mandato, Donald Trump. O Ibovespa fechou com baixa de 0,46% e o dólar subiu 0,7%, bem acima da flutuação normal, para encostar em R$ 3,37. É um patamar que não se via em quase um ano – 11 meses –, alcançado depois de cinco altas consecutivas, o que não ocorria desde agosto de 2016.
Além do fato de muitos analistas já considerarem Lula "carta fora do baralho" da sucessão presidencial – a prisão, portanto, estaria ao menos parcialmente precificada –, focaram na incerteza que se abre para a disputa presidencial no Brasil e na nova ameaça protecionista de Trump.
O presidente americano ameaçou, na noite da véspera, impor barreiras a produtos que representam mais US$ 100 bilhões no comércio entre os dois países. O índice Dow Jones, o mais tradicional de Nova York, caiu 2,34%, murchado pela percepção de que um agravamento da guerra comercial entre EUA e China pode atrapalhar o incipiente processo de recuperação da economia global.
Embora boa parte da reação de ontem se deva ao temor em relação à escalada protecionista, André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, destaca que a semana terminou pior para a bolsa brasileira do que para as de outros emergentes. Foi o único resultado negativo acumulado. China ficou no zero a zero, no México a alta foi de 2,4%, na Índia, de 2%, e Chile, África do Sul e Rússia não chegaram a 1%, mas ficaram no azul.
Um dos motivos é o fato de que ainda há dúvida sobre o capital político de Lula, mesmo na cadeia, avalia Perfeito. A incerteza sobre a campanha eleitoral está longe de se dissipar. Acrescida da tensão sobre o desfecho da prisão do ex-presidente, agravou no Brasil o impacto negativo que percorreu quase todos os mercados no mundo.