Cheio de distorções, o modelo que vigorou até 2015 na Petrobras, de incentivar a produção nacional de equipamentos para exploração e produção de petróleo praticamente a qualquer custo, tinha de ser revisto. Além de desperdício, criou espaço para disputas nas quais o vencedor era definido no clube “Unidos Venceremos”, o cartel formado pelas empreiteiras que acabaram envolvidas na Operação Lava-Jato.
Mas não se combate desperdício e mau uso de dinheiro público provocando mais perda. A justificativa da Petrobras para levar a construção do casco da futura P-71 de Rio Grande para a China contrasta com a realidade. A companhia afirma que tomou a decisão porque “não foram identificados no Brasil estaleiros com capacidade a atender à demanda”. É uma meia verdade.
Se, de fato, não há um “estaleiro” adequado, existe estrutura em Rio Grande com capacidade para realizar o trabalho. O problema é que o dique seco construído com a promessa de suprir uma deficiência do segmento era um ativo importante para o país na fase dourada da indústria naval – que encobria um porão soturno, é preciso observar – virou uma cicatriz.
A estrutura com 13,8 metros de profundidade, 133 metros de largura e 350 metros de comprimento ainda está lá. Deveria ser operada pela Ecovix, empresa em liquidação judicial por dívidas de R$ 8 bilhões. Aprovado há mais de um ano, o plano de recuperação sob responsabilidade do banco Brasil Plural nunca apareceu à luz do dia. Se tivesse, poderia ter sido diferente.