Apesar de ter determinado arquivamento da proposta de suspender a regra de ouro, que proíbe financiar despesa corrente com dívida, o governo federal permanece com um buraco a resolver para 2019. E o tamanho da encrenca em que o Planalto se meteu por ter aberto a discussão dá ideia da dimensão do buraco nas contas públicas previsto para o próximo ano.
Entre aumento de despesas e perda de arrecadação por conta da recessão, equilibrar as contas públicas se parece com o número dos pratos giratórios: se o movimento parar, uma peça se quebra. Em 2016, houve aportes do BNDES e do extinto Fundo Soberano, mais repatriação incentivada para garantir o fechamento acima da linha d’água. No ano passado, houve uma tentativa de repatriação 2, que contribuiu pouco, além do enésimo Refis, além da permissão para um buraco mais fundo do que o previsto.
Mas as "soluções criativas" acabaram. Os bancos públicos, a partir de 2019, terão desembolsado toda a quantia de subsídios dados até 2015. Entre economistas especializados em contas públicas, discute-se abertamente a hipótese de shutdown (fechamento). A situação, pela qual os Estados Unidos passaram em 2013, implica a interrupção de pagamentos e de prestação de serviços públicos.
É um cenário assustador. Na tentativa de suavizar a impopularidade, o Planalto tem adotado um discurso otimista sobre a situação da economia. Mas não há garantias para depois da virada no calendário. Técnicos estimam a profundidade do burado entre R$ 180 bilhões e R$ 200 bilhões. Seria um valor diante do qual um ajuste nos padrões usuais se tornaria inviável. Mas depois de criar expectativa de melhora e a polêmica do fim da regra, o governo tem a obrigação de providenciar solução palatável.