Se o comentário da Standard & Poor's (S&P) não havia ficado claro, nesta segunda-feira (15) outra das três grandes agências de análise de risco praticamente desenhou. Em vez de acompanhar o corte de nota anunciado na semana passada pela S&P, a Moody's preferiu publicar para seus clientes um comentário sobre a situação do Brasil. No documento, aponta que a "alta probabilidade" de o governo brasileiro não conseguir cumprir a chamada regra de ouro em 2019 é negativa para o rating do país. Ou seja, outro rebaixamento virá, mas a agência não dá pistas de quando.
Leituras mais benignas entendem que só viria quando a situação se configurasse, mas um dos papéis desse tipo de empresa é antecipar aos clientes os riscos embutidos em seus investimentos. O retrospecto de médio prazo das três grandes não ajuda – todas mantinham notas máximas para instituições financeiras internacionais que quebraram na crise de 2008/2009. Mas o tombo – foi mais do que um tropeço – não abalou seu poder.
Apesar do maus antecedentes, S&P, Moody's e Fitch – que ainda não se manifestou sobre o Brasil, mas deve fazê-lo em seguida, se mantiver a liturgia do segmento –, ainda definem opiniões e custos. Ao cortar ratings ou emitir avaliações negativas como a publicada ontem, influenciam na percepção de risco e elevam as taxas de juro cobradas dos mal-avaliados. Dessa forma, acabam entrando no capítulo das profecias autorrealizáveis: opinam que a situação piorou, o alvo da avaliação é forçado a pagar mais pela rolagem da dívida, o peso aumenta e, em consequência, a situação piora.
Mas nem essa espiral viciosa foi capaz de perturbar, no início da terceira semana de janeiro, o bom humor de investidores e especuladores que atuam na bolsa brasileira. Isso ocorreu mesmo diante da falta de referência, porque a bolsa de Nova York estava fechada devido ao feriado. O dólar até mudou de direção e fechou o dia com leve alta, refletindo em parte o humor azedo das agências sobre o Brasil.