A opinião expressa no título acima não é da colunista, mas de alguém que conhece bem o impacto da perda da Ford para o Estado. Nelson Proença, que ajudou a negociar a vinda da montadora no governo Britto, refere-se ao risco de perda do investimento de US$ 1 bilhão na construção de termelétrica em Rio Grande.
Anunciado em 2009, o projeto da usina abastecida com gás natural liquefeito (GNL) e regaseificado em Rio Grande foi comprado pela New Fortress Energy, ligada a um fundo de investimento que administra ativos de US$ 72 bilhões. Uma semana depois, o choque: a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) revogou a licença para construção. Isso é possível porque o projeto havia atrasado nas mãos da Bolognesi, empresa gaúcha que, no comando do projeto, havia sido credenciada em leilão público em 2014. Detalhe: ao divulgar a aquisição, a New Fortress fez questão de deixar claro que não precisa de financiamento público para tocar a construção, circunstância rara no Brasil.
O que Proença aponta como maior impacto da eventual perda do projeto é projeção de arrecadação anual de ICMS de até R$ 450 milhões, decorrente principalmente da importação de GNL. Na avaliação do ex-secretário, que também estava no governo quando o projeto foi anunciado, há “pressões políticas” sobre a Aneel para que os 1,3 mil megawatts (MW) que a térmica geraria sejam incluídos em novos leilões públicos, com possibilidade de aprovação no Nordeste. Proença admite, ainda, ter interesse empresarial no projeto: tem participação na Terra Lune, que tem pequena fatia do negócio.
– O que perderia não é nada perto da perda do Estado – disse.
Embora a New Fortress não tenha face conhecida no Estado, um de seus assessores confirmou por e-mail à coluna a intenção de bancar desenvolvimento e construção com recursos próprios. Consultada, a Aneel não respondeu o pedido de explicações. Os investidores preparam um recurso à agência, que parece ter feito de conta que não viu que o controlador havia mudado.