Mesmo sem interessados nos seis blocos de exploração de petróleo no litoral do extremo sul do Estado, a 14ª Rodada de Licitações da Agência Nacional do Petróleo (ANP) chancelou o otimismo que cercava a oferta. É verdade que a arrecadação recorde de R$ 3,8 bilhões foi concentrada em seis áreas, que renderam R$ 3,55 bilhões em bônus de assinatura (nome oficial do pagamento feito à União). Mas o total supera o valor da nona rodada, de novembro de 2007, de R$ 2,1 bilhões, mesmo atualizado pelo IPCA (R$ 3,7 bilhões).
Há um detalhe importante: as áreas que concentraram a receita foram arrematadas em consórcio liderado pela Petrobras. Embora tenha a ExxonMobil como sócia, ainda é uma estatal gerando receita para a União. Agora, a expectativa se desloca para 27 de outubro, quando serão ofertadas as primeiras áreas de pré-sal com prévio conhecimento da localização na província que hoje não é mais promissora: mesmo para quem duvidada do potencial, passou a ser produtiva.
O entusiasmo não contagiou áreas de maior risco, como os seis blocos na Bacia de Pelotas. Um dos fatores que pesou na falta de lances foi uma experiência malsucedida no Uruguai. Em 2012, a petroleira britânica BP arrematou três blocos na costa do Uruguai. Na época, o interesse da gigante – a BP é uma referência no setor petrolífero – foi encarado como indicação de que áreas no Estado ganhariam atenção. No entanto, em 2015, depois de investir cerca de US$ 100 milhões, a BP anunciou que iria suspender a prospecção. Justificou a decisão pela queda nos preços do petróleo, que tornava mais difícil sustentar projetos de "alto risco". Conforme a descrição da própria ANP, era uma "bacia de nova fronteira, ainda muito pouco explorada e sem descobertas até o momento, mas com potencial petrolífero promissor".
Também pesou a oferta de áreas mais conhecidas, como as da Bacia de Campos, que tiveram ágio de 1.556%. Se o Brasil superar a desconfiança dos investidores estrangeiros sobre o mar de lama que cercou o petróleo, em um mês tem mais.