Perdão, leitores, mas a coluna segue inventando palavras para dar conta da complexa situação do Brasil. Nas últimas semanas, a tese do "descolamento" entre política e economia cresceu a ponto de virar verdade. Nesta quinta-feira (5), o estoque de cola entre as duas vertentes foi renovado, com a ressaca da aprovação do fundo eleitoral e das generosas regras do novo Refis, o Programa Especial de Regularização Tributária (Pert).
Só essas duas novidades representam, juntas, perdas superiores a R$ 5 bilhões no país do buraco de R$ 159 bilhões nas contas públicas. Também não ajudou a percepção de que o presidente Michel Temer vai esperar pela rejeição do recebimento da segunda denúncia contra ele oferecida pela Procuradoria-Geral da República para avançar em novas e impopulares medidas de ajuste.
Na economia real, seguem os sinais de reação e retomada, alguns mais relativizados. É o caso da produção de veículos, que recuou na comparação mensal entre setembro e agosto, mas saltou quase 40% em relação a setembro do ano passado. No mercado de capitais, que deu a senha mais poderosa para o descolamento, esta quinta foi um dia de exceção nas últimas semanas. Depois de uma abertura animada, em que o Ibovespa chegou a superar os 78 mil pontos, renovando as apostas de que 80 mil podem ser alcançados ainda neste ano, o humor mudou.
Em um raro dia de alta volatilidade – altas e baixas intensas –, o fechamento foi praticamente zero a zero, no nível de 76 mil pontos. Até as ações mais negociadas do Banrisul acompanharam o nervosismo. Chegaram a subir pela manhã, mas fecharam com nova baixa de 1,29%, embora muito menor do que a do dia anterior (10,87%). Até o dólar voltou ao patamar de R$ 3,15. Não é um salto, mas é sintoma de que ainda tem cola.