A coluna vai pedir licença aos leitores para insistir na questão, sob outro ponto de vista. Depois de ouvir as advertências do economista francês sobre os riscos da desigualdade, foi a vez de prestar atenção em quem tenta encaminhar soluções práticas. O Congresso Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) foi aberto nesta segunda-feira (2), em São Paulo, com uma conversa sobre a responsabilidade das empresas para uma economia mais inclusiva e sustentável. Perceberam o sincronismo?
A preocupação com os efeitos negativos do modelo das últimas décadas conecta as inquietações de um socialista francês e de grandes corporações nacionais e internacionais. Marcel Fukuyama, cofundador e presidente do Sistema B, apresentou esse grupo de empresas que, segundo ele, não buscam apenas o êxito financeiro, mas o bem-estar das pessoas e do planeta. Detalhe: suas contribuições são auditadas e tornadas públicas, em nome da transparência.
– O Sistema B é para empresas que querem sair da intenção e ir para o compromisso – avisou Fukuyama.
Ou seja, não basta discurso correto para integrar o Sistema B, é preciso prática, mensuração e verificabilidade. E existe? A brasileira Natura foi a primeira empresa de capital aberto a entrar no Sistema B – no mundo. Existem outras 2,2 mil em mais de 50 países.
– Se todas as empresas puderem se comportar como Sistema B, teremos melhores empregos, compras mais conscientes e comunidade com melhor qualidade de vida. Mas precisamos ter ferramentas críveis e comparáveis para certificar essas empresas – insistiu Fukuyama.
Seu recado foi reforçado por Hugo Bethlem, diretor-geral do Instituto Capitalismo Consciente do Brasil, que pretende ser um dos pavimentadores da certificação para o Sistema B. O movimento, que nasceu com o professor Rajendra Sisodia e John Mackey, um dos fundadores da Whole Foods – vendida para a Apple, também alinhada com o capitalismo consciente, em junho por US$ 13 bilhões –, também propõe maximizar riqueza gerada para a sociedade, não apenas o lucro. Fukuyama fechou o debate afirmando saber do risco de ser encarado como "hippie do século 21" – na aparência pessoal, não haveria hipótese – mas avisa:
– Temos muitos laboratórios, e grandes, de que empresas que mostram ser possível fazer diferente de maximizar lucro, minimizar custos e ignorar externalidades.
*A colunista viajou a convite do IBGC