Na palestra proferida nesta quinta-feira (29) no Fronteiras do Pensamento, o economista-celebridade francês Thomas Piketty deu lições ao Brasil. Com a humildade de admitir que não acompanha no detalhe o debate econômico nacional, reiterou cada linha do estudo de um de seus associados, Marc Morgan. As conclusões, apresentadas no início do mês, ainda provocam rearrumação entre piketistas e antipiketistas no Brasil, porque mostraram que entre 2001 e 2015 a desigualdade não diminuiu muito. Mais, que o pouco ganho de renda dos mais pobres ocorreu à custa da classe média, porque os 10% mais ricos abocanharam uma fatia ainda maior da renda.
Mesmo ao chancelar o diagnóstico de Morgan, de que na base de dados mantida pelo grupo a desigualdade do Brasil só tem paralelo com o Oriente Médio e a África do Sul, Piketty não assume discurso apocalíptico.
– Sou otimista – afirma, com um sorriso, acrescentando que os cidadãos precisam de informação econômica para cobrar mudanças.
Depois de alcançar um novo e inédito patamar de fama para um economista, não posa de dono da verdade. Diz que a metodologia do World Wealth and Income Database (WWID) é uma contribuição sem pretensão de ser à prova de erros. Lembrou que está aberta à contribuição pública.
Observando que não conhece a realidade brasileira no detalhe, Piketty deu sinais de conhecer bem alguns sintomas das distorções nacionais. Ao falar por exemplo, do sistema tributário disfuncional do Brasil, citou um caso bem conhecido de qualquer contribuinte: a conta de luz, que carrega junto com o preço da energia quase metade em diferentes tipos de tributos. A tarefa de redefinir o sistema tributário não deve ser travada pela corrupção, recomendou. A saída é a transparência.