Responsável por incendiar o debate sobre desigualdade com seu livro O Capital no Século XXI, em 2013, Thomas Piketty desembarca em Porto Alegre, para palestrar no Fronteiras do Pensamento, na semana em que seu aluno, Marc Morgan Milá, jogou gasolina na fogueira.
Orientado por Piketty, Morgan publicou neste mês estudo afirmando que não houve melhora na distribuição de renda entre 2001 e 2015. Inclui o período em que milhões saíram da pobreza, concentrados nos mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva. Mais, nesse intervalo, os 10% mais ricos aumentaram sua fatia do bolo de 54,3% para 55,3%. Como o Brasil, além de desigual, é bipolar, quem antes incensava Piketty passou a criticá-lo.
Neste domingo (24), o jornal Folha de S. Paulo publicou entrevista com Morgan. O economista afirmou que o teto de gastos aprovado na gestão Michel Temer "pode ter impacto negativo sobre a desigualdade porque são os mais pobres que dependem mais dessas despesas". E sustentou que houve "equívoco" na interpretação: a desigualdade teria recuado pouco, não se aprofundado. O vento virou de novo.
Antes do uso político, é preciso entender o estudo – e considerar suas limitações. É um entre milhares destinados a desvendar complexidades do Brasil, que havia ficado fora do best-seller de Piketty por dificuldade de acesso a dados. Morgan afirma que o Brasil é o país mais desigual do mundo, com exceção do Oriente Médio e da África do Sul. E que todos os governos das últimas décadas têm responsabilidade por isso.