Foram tantos recordes nominais seguidos que ficou até difícil de saber qual foi mesmo a maior cotação do dólar na história. E se a resposta for "são coisas diferentes"? Complica? A coluna explica.
É preciso sempre ter o cuidado de usar a expressão "recorde nominal" porque valores em reais – uma cotação cambial é o preço da moeda – são afetados pela inflação.
Em setembro de 2002, durante a campanha que levou à primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, o dólar atingiu a cotação nominal de R$ 3,99. Não é nada perto dos atuais R$ 6? Acontece que, corrigido só pelo IPCA, esse valor corresponderia hoje a nada menos de R$ 14,83 – mais do que o dobro do recorde nominal.
É um chute? Não, é uma conta fácil de fazer com a ajuda da Calculadora do Cidadão do Banco Central (veja a ferramenta aqui). É só escolher a opção "correção de valores", digitar o valor de uma determinada época, escolher o indicador de correção — a coluna usa o IPCA por ser tratar da inflação oficial do Brasil — e definir até quando se pretende atualizar o valor.
Todos os valores são passíveis de correção, inclusive os em dólares. Mas como a inflação americana é mais baixa, ao atualizar a diferença será menor do que a de um preço em reais. Em reais, a inflação acumulada entre setembro de 2002 e novembro de 2024 é de 408,46%.
Apenas para comparar, a coluna buscou uma calculadora de inflação em dólares no período (nem tão recomendável quanto a do BC, por isso não vai ter link). Em dólares, a inflação acumulada entre setembro de 2002 e novembro de 2024 é de 75,4%. Se a cotação de R$ 3,99 fosse corrigida também pela inflação em dólar, iria para absurdos R$ 26.
Então, é bastante improvável que o recorde real (com cálculo que considera a inflação do período) do dólar seja quebrado tão cedo. Só não estamos livres tão cedo, por outro lado, de novos recordes nominais. Na manhã desta sexta-feira (13, por sorte), a moeda americana abriu outra vez em levíssima alta – uma oscilação para cima – de 0,15%, para R$ 6,019.
E só para não perder as contas: o recorde nominal do dólar é de R$ 6,082, registrado na última segunda-feira (9).