Apesar do esforço do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para dourar a pílula da divisão da conta do rombo extra do orçamento federal – R$ 58,2 bilhões acima dos R$ 139 bilhões autorizados pelo Congresso, um buraco total de R$ 197,2 bilhões –, não deu para disfarçar o gosto amargo do remédio.
Depois de sugerir, afirmar e projetar aumento "visível" de tributos – Cide, IOF, PIS/Cofins –, o governo optou por uma estratégia de contornos menos nítidos, mas ainda assim bem identificável. Encerrar uma desoneração sobre a folha de pagamento significa, na prática, reonerar, ou seja, tornar mais cara, mais pesada. E, portanto, elevar o custo de novas contratações.
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Justo agora, quando o país vivia a expectativa de que o primeiro resultado positivo do balanço de contratações e demissões com carteira assinada, expresso no Caged de fevereiro, pudesse não ser só um ponto fora da curva. Quase todas as entidades empresariais chiaram, da Abicalçados a Abinee, da Fiergs ao Simecs de Caxias do Sul. É verdade que alguns setores demoraram para chegar à conclusão de que a desoneração, de fato, desonerava.
Na quarta-feira, na tentativa de aplacar a inquietação empresarial, Meirelles afirmou que o elevado gasto público limita a expansão da economia. É verdade. Nessas circunstâncias – um grande rombo extra depois da apresentação do déficit de R$ 139 bilhões como "realista" e "conservador", seria um bom momento para mostrar solidariedade no aperto e recuar em mais um ponto, o da criação de ministérios. Michel Temer havia prometido cortar uma dezena, entregou seis e recriou dois.
Está a apenas quatro do número recorde de 39 pastas.
E se no setor empresarial a forma de tentar domar o rombo extra causou inquietação, no mercado financeiro e entre economistas familiarizados com as contas públicas a sensação dominante foi de ceticismo. O corte de R$ 41,2 bilhões em um orçamento que tem R$ 120 bilhões de despesas discricionárias – sem destinação obrigatória – é considerado virtualmente inexequível. Limar um terço das destinações não carimbadas também pode travar a economia. Se revisar a meta de déficit é considerada uma hipótese descartada, por conta do dano à credibilidade da equipe econômica, um aumento de tributos "visíveis" pode ter sido apenas adiado.