Preste atenção na reportagem de Caio Cigana publicada neste fim de semana. Acredito que todos nós, jornalistas e leitores, esperamos por ela durante muito tempo: segundo maior polo metalmecânico do país e segunda maior cidade do RS, Caxias do Sul dá sinais firmes e fortes de retomada do crescimento.
Como relevante centro fabril do Estado, a cidade sempre foi um termômetro da crise, que Zero Hora acompanhou e retratou de perto.
–Quando o aperto econômico começou a dar sinais mais evidentes, em 2014, passamos a dar atenção especial à cidade – diz Dione Kuhn, editora de Notícias de ZH.
Naquele ano, o próprio Caio Cigana escrevia, em junho, em uma análise na coluna +Economia, que as demissões eram questão de tempo: "Acendeu de vez a luz de alerta no emprego industrial no Estado. Sem sinais de retomada da economia, estão no limite as estratégias para evitar demissões. Na Serra, um dos principais polos fabris do Rio Grande do Sul, a Copa é uma oportunidade para medidas alternativas como férias coletivas, bancos de horas e folgas, mas julho será o divisor de águas. Se a demanda não reaquecer, os cortes de pessoal serão inevitáveis", dizia Cigana.
A situação, desde aquele alerta, piorou. Em várias reportagens sobre o tema, mostramos o encolhimento na atividade econômica, que alcançou de 33% entre 2014 e 2016. Ou a ampliação da crise da indústria para os setores de comércio, construção civil e serviços. Dezenas de milhares de empregos desapareceram. Em dezembro de 2017, mais uma reportagem retratava o reflexo dos seguidos anos de crise na Serra. Caxias perdia posições no grupo de elite do PIB nacional. Mesmo assim, já era possível perceber a reação nos dados consolidados do ano passado: revertendo a maré de más notícias, a cidade cresceu 5,6%, contra 1% de alta do PIB nacional.
– Por trás dos números frios – lembra Cigana –, existem histórias. E os números que a próspera Caxias do Sul mostrou nos últimos anos são de assustar. As empresas viram suas vendas despencarem. Apertaram o cinto ao máximo para sobreviver.
Algumas quebraram. A consequência apareceu no grande número de demissões.
O sinal de que o cenário começava a melhorar e que deu origem à ideia da reportagem da edição deste final de semana veio de um número que parece pouco significativo. Em 2017, as indústrias metalmecânicas de Caxias do Sul criaram 61 empregos. Pouco, mas relevante depois da destruição de mais de 20 mil postos de trabalho nas fábricas que fizeram a pujança da cidade, mas, com o tombo da economia brasileira, sentiram de maneira muito forte a recessão. Aos poucos, os indicadores voltam ao azul, embora exista muito terreno para recuperar.
– Como repórter de economia há 16 anos, circulei pelo chão de fábrica de algumas das principais indústrias da cidade – conta Cigana. – Mas, desta vez, foi possível perceber algo diferente: é fácil encontrar pessoas demitidas na época mais aguda da crise e que foram chamadas de volta quando os negócios começaram a melhorar. As histórias por trás dos números, agora, são de esperanças renovadas.