Pais ansiosos com o futuro dos filhos investem duro na educação. Escola bilíngue desde os primeiros anos, disciplinas que estimulam a criatividade, aulas de música antes de conseguir segurar um instrumento. Esforços para que o pequeno receba toda a estimulação possível e que esteja pronto o quanto antes. Isso dá resultados? Talvez convenha saber como nosso cérebro evoluiu.
Poucas coisas são tão mágicas como o parto de um potro. Uma hora depois o recém nascido praticamente acompanha a mãe na marcha. Na comparação conosco surge um abismo. Após um ano mal conseguimos andar em linha reta. Como nossa espécie conseguiu chegar tão longe se nossos bebês são tão incompletos? Como não fomos extintos?
Nem sempre foi assim, um dos preços da nossa evolução é a chamada neotenia. É o nome que os biólogos dão ao alongamento do tempo que necessitamos para crescer. Adquirimos um cérebro enorme, dispendioso energeticamente, que não vem pronto, enquanto o potro acima nasce com quase tudo que um cavalo tem que saber para viver.
Um exemplo ajuda: não adianta abrir os olhos, para ver é necessário desenvolver essa aptidão. Cegos de nascença, quando operados, não enxergam. São inundados por estímulos que não lhes fazem o menor sentido. É necessário desenvolver o software de enxergar. Não é simples, e não é rápido. Assim é com tudo em nosso desenvolvimento.
O cérebro só termina de amadurecer depois da adolescência e ainda é controverso quando realmente estaria pronto. Seu desenvolvimento é moroso porque tornou-se uma máquina sofisticada. Do ponto de vista evolutivo, funciona assim: quanto mais lento desenvolve, melhor ele será.
Mas isso é o percurso do desenvolvimento do cérebro da espécie, como fica o de cada um de nós? Somos feitos de estímulos, tudo levaria a crer que exercitar a mente é a melhor maneira de enriquecê-la. Só que as coisas são mais complexas, pois ele não é um computador: os afetos participam da aprendizagem, o quanto amamos, ou não, quem está ao nosso lado influencia a vontade de saber. De qualquer forma as aquisições seguem lentas. Somos seres plásticos, mas raramente rápidos para aprender.
A receita desses pais está errada. Serve para fabricar adultos ansiosos e talvez mal amadurecidos. Investir em educação é sempre certo, mas nunca com pressa. Dessa forma afoita, uma chuva de estímulos encontra-se com sujeitos imaturos em cérebros despreparados. Deixem a histeria do desempenho longe dos pequenos. Na infância, brincar, fantasiar e explorar o mundo já são grandes – e difíceis – tarefas. Esse é o melhor caminho para ter um adulto cognitivamente maduro e diminuir os índices de hiperatividade. Não apresse aquilo que não pode ser apressado. Somos o que somos pela lentidão.