As eleições de 2022 demonstraram que a direita brasileira saiu de vez das sombras para ganhar 58 milhões de votos e as ruas, mas, tão equivocadamente como muitos de seus adeptos tacham todo esquerdista de “comunista”, nem todo direitista quer ditadura militar. Como a direita passou a fazer parte da paisagem política brasileira, segue aqui um breve guia para entendê-la melhor e contribuir para uma urgente reconciliação entre dois brasis fraturados.
Troglodita – Querem um país onde a lei só vale para seus inimigos. Financiam bloqueios de estradas, não aceitam restrições ambientais e nem ao uso de armas. Se multiplicam nas franjas da Amazônia desmatada. Bolsonaro os representa mas seguirão quem não for um entrave a sua cobiça
Radical – Mais ruidosa e vistosa, seus seguidores vão para a frente dos quarteis clamar por golpe militar travestido de “intervenção federal”. Fazem interpretações delirantes da Constituição alimentados por teorias da conspiração e desinformações. Se chamam de “guerreiros” e “patriotas” e só creêm nos zaps e nas redes sociais da sua bolha de convívio. Alvos recentes de memes e chacotas, os extremistas rejeitam composição com quem pensa diferente. Compõem um núcleo radical de apoio a Bolsonaro e podem seguir outro líder extremado caso se sintam traídos por seu mito.
Religiosa – Cresceu convertendo para o neopentecostalismo as massas relegadas pela Igreja Católica. Suas igrejas ocupam o lugar do Estado nas periferias e se transformaram em forças políticas sólidas. Embora nem de longe todos os 31% de evangélicos no Brasil possam ser considerados de direita, a maior parte se identifica com o bolsonarismo na pauta de costumes e vota de acordo com a orientação de seus pastores. A esquerda pouco sabe deles e vice-versa.
Democrática – Se alinha ao bolsonarismo, mas rejeita rupturas institucionais e discursos radicais. Trabalha pelo esfriamento de crises e vê em Bolsonaro um trampolim para suas ambições políticas. É representada hoje por nomes como Romeu Zema, Tarcísio Freitas e Arthur Lira. É um grande manancial de votos à direita.
Centro-direita – Não se alinha ao bolsonarismo e encara Lula como um “mal menor” do que o risco autoritário de Jair Bolsonaro. É o caso de Simone Tebet e boa parte dos deserdados pelo bolsonarismo radical, entre eles partes do União Brasil, do PSD e do PMDB.
Liberais – Até anteontem tachados de direita pelo PT, são francamente contra as teses estatizantes e intervencionistas da esquerda e o populismo econômico de lulistas e bolsonaristas. Defendem a democracia, um Estado enxuto e eficiente, o respeito às minorias e o combate a preconceitos. Alguns deles, como Armínio Fraga, Henrique Meirelles e João Amoedo, rejeitam Bolsonaro e a direita anacrônica.