Duas reuniões realizadas na quinta-feira (10) marcaram posição das Forças Armadas a respeito das manifestações em frente aos quartéis, que há mais de uma semana pedem que os militares impeçam a posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A primeira sessão foi uma videoconferência convocada pelo comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, com cerca de 150 generais da ativa e que durou pouco mais de uma hora.
Conforme relatos de dois participantes a este colunista, Freire Gomes realizou um encontro de rotina de fim de ano, como encerramento da instrução e do exercício financeiro, das ações de Garantia de Votação durante a eleição de 2022. E aproveitou para também falar das manifestações em frente aos quartéis. O comandante do Exército considera que os atos não devem ser reprimidos à força, porque são permitidos pela Constituição.
A fala do comandante foi feita um dia depois de o Exército solicitar ao governo do Distrito Federal ajuda para manter a ordem em frente ao Quartel-General (o prédio conhecido como "Forte-Apache") da força armada, em Brasília. Freire Gomes considera que, desde que não interrompam o fluxo de veículos e pessoas, as manifestações podem prosseguir.
Ainda na quinta-feira, Freire Gomes e os comandantes da Marinha (almirante-de-esquadra Almir Garnier Santos) e Aeronáutica (tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Junior) conversaram e divulgaram nota à imprensa. Nela, ponderam que os atos políticos não constituem crime, mas condenam "eventuais excessos cometidos em manifestações que possam restringir os direitos individuais e coletivos ou colocar em risco a segurança pública; bem como quaisquer ações, de indivíduos ou de entidades, públicas ou privadas, que alimentem a desarmonia na sociedade". Eles recomendam que os poderes conversem e "eventuais arbitrariedades" sejam corrigidas, especialmente pelo Legislativo.
Coincidência ou não, tanto a reunião dos generais como a manifestação dos comandantes das Forças Armadas aconteceram um dia depois de o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, determinar que as polícias Militar, Federal e Rodoviária Federal desobstruam todas as vias bloqueadas por manifestantes no Distrito Federal. Ele também recomendou, recentemente, que os policiais identifiquem os coordenadores dos atos que pedem o impedimento da posse de Lula.
A conclusão disso é que as Forças Armadas não vão retirar os manifestantes, desde que eles se portem pacificamente.
- Se a lei permite esse tipo de manifestação, não seremos nós que iremos impedir - resume um general.