![Jonathan Heckler / Agencia RBS Jonathan Heckler / Agencia RBS](https://www.rbsdirect.com.br/filestore/6/3/0/6/4/2/4_84646081ef2d1c0/4246036_9e004c69ef1a266.jpeg?w=700)
Grupos bolsonaristas de todo o país, inconformados com a derrota nas eleições de 30 de outubro, começam a realizar atos em frente a quartéis entre hoje (1) e o Dia de Finados. O slogan principal é: "Resistência civil no Brasil". Mas de civil a intenção tem muito pouco. O clamor é para que as Forças Armadas assumam o poder, afastem e prendam os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e mantenham no cargo o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL). Eles consideram que as eleições foram roubadas - apesar de nenhuma prova de fraude nas urnas ter sido apresentada por ninguém.
Em Porto Alegre os atos ocorrem nos fundos do Quartel-General do Exército, na Rua Sete de Setembro. O ocupante mais ilustre do QG, general Fernando Soares (Comandante Militar do Sul), evita declarações oficiais, mas não montou grandes esquemas de segurança, porque o monitoramento indica manifestações pacíficas.
A escolha do Dia de Finados não é casual. É feriado, o que pode ajudar a reunir gente. Nos grupos de WhatsApp e Telegram circulam vídeos em que manifestantes explicitam suas intenções: conclamar o povo a causar grande comoção nacional, por meio de bloqueios, interrupções no abastecimento, mostrar insatisfação com as eleições, "a ponto de chamar a atenção do presidente e do Exército, para que decretem Estado de Emergência ou Estado de Sítio". Uma manifestante, em vídeo, fala: "Quando o povo começar a sentir falta de alimento e de remédio, as Forças Armadas vão começar a agir".
É preciso lembrar que Estado de Emergência e Estado de Sítio interrompem algumas garantias constitucionais, como a inviolabilidade de domicílio e o sigilo de comunicações telefônicas.
Não se sabe a opinião de Bolsonaro a respeito dessas manifestações, já que ele não se pronuncia publicamente desde o dia das eleições. Já na cúpula das Forças Armadas, a pressão dos manifestantes pode surtir efeito contrário ao desejado por eles. Baderna, desabastecimento, falta de remédios e confrontos nas ruas são um dos cenários mais temidos pelos militares. Nas rodovias já há apedrejamento de veículos que furam os bloqueios e conflitos entre policiais e os caminhoneiros que impedem o tráfego.
- Impedir o trânsito e o trabalho das refinarias é crime. Isso vale para os sem-terra, vale para os caminhoneiros, vale para a esquerda e a direita. Desordem não será tolerada - pondera um militar graduado com quem conversamos.
Grande parte dos militares (a maioria, possivelmente) não gostou da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas eles pretendem aceitar o resultado. Não querem tumulto no país. Tampouco flertam com a ideia de assumir à força o governo, com o que isso implicaria desgaste cotidiano, em prejuízos para a imagem, no compromisso de ter de reprimir descontentamentos populares, como da última vez em que fizeram isso, em 1964. O cenário também é outro. Não teriam apoio internacional e, no campo interno do país, colheriam instabilidade, pouca receptividade do mercado financeiro e das multinacionais, sem falar do perigoso dilema de jogar irmão contra irmão.
Os manifestantes parecem não entender que a ditadura que pedem não os pouparia, caso resolvessem em algum momento reclamar das condições do país, da carestia, dos preços altos e outros problemas cotidianos. Regimes autoritários reagem mal a críticas e costumam ser ingratos com quem os adula.