Agora que estão explícitos a lambança jurídica do STF e os contornos de uma possível nova candidatura de Lula, entre eles a promessa de que não se ouvirá dele qualquer intenção de privatização, pode-se constatar que, em se tratando da modernização do Estado, o ex-presidente segue congelado no passado.
Apesar de tudo o que ocorreu no mensalão e no petrolão, Lula ainda pinta o Estado com os mesmos pinceis do regime militar, que criou 47 empresas estatais, quatro a mais que os governos do PT. Líderes de esquerda e direita se detestam, mas, quando se trata de proteger os mamutes estatais, os cargos políticos e seus privilégios, andam de braços dados. Lula não privatiza e Bolsonaro também não. Enquanto isso, a imensa maioria de desvalidos sem voz ajuda a sustentar uma constelação de empresas que podiam ser extintas ou ter seu risco transferido para a iniciativa privada.
Veja-se o caso da Usiminas, uma siderúrgica estatal que produzia rombos sistemáticos aos cofres públicos. Em 1991, cobri por ZH na então Bolsa de Valores do Rio o primeiro leilão de privatização. Alguns sindicalistas, em volta de um caminhão de som, arrancavam pedras portuguesas do calçamento e as atiravam contra o prédio da bolsa cercado pela polícia. A batalha campal fazia crer em enorme resistência popular, quando não havia mais que 50 manifestantes. Privatizada a siderúrgica deficitária, três anos depois a revista Exame a escolheu como melhor empresa do Brasil. Desde então, teve altos e baixos, inclusive um prejuízo de R$ 3,7 bilhões em 2015. Mas você pagou por isso? Não, porque, numa empresa privada, esse é um problema dos acionistas e não dos contribuintes.
Se Estado obeso fosse garantia de soberania, não estaríamos sofrendo a maior ameaça à nossa integridade social e econômica desde o Império. O Brasil produz armas, energia e até notícia por meios de estatais, mas tem de rastejar por vacinas e seus insumos a empresas privadas dos Estados Unidos, da Europa, da Índia e até da comunista China. Sim, a Sinovac, criadora da CoronaVac, é uma farmacêutica privada.
Embraer, Vale, CSN, Light e tantas outras privatizadas estão longe da perfeição mas deixaram para trás amarras que impediam seu crescimento e o de seus profissionais. Falo com conhecimento de causa. Em 1988, me tornei um raro caso de migração voluntária do conforto de uma estatal (a EBN) para a aventura de uma empresa privada (a RBS). Não me arrependi um dia sequer da troca. Parafraseando Lula no seu discurso, não há por que o país ter medo. A privatização é uma estrada aberta para o desenvolvimento sem os constrangimentos de intervenções políticas e da burocracia sem fim. Privatizações liberam também escassos recursos para serem aplicados onde são mais necessários. Privatize-se, portanto, e jogue-se todo o dinheiro em um fundo que mantenha público e aprimore o SUS por muitas décadas à frente. Veremos quem sairá ganhando.