Essas ideias que nos vêm de repente: por que precisamos de alguém ou de alguma coisa, seja muito, intensamente, ou só um pouquinho – e mesmo assim nos incomoda?
Por que neste momento eu preciso tanto de estar no assoalho de madeira clara superescovado do quarto de minha avó materna, que chamávamos oma, acabando de encontrar numa fresta um alfinete de cabecinha redonda, azul-clarinha, coisa mais linda do meu dia?
Preciso desse encantamento agora mesmo.
Mas um adulto chato me convencerá de que “agora” nem existe, mentalmente lhe mostro a língua e volto a esta coluna.
Por que de repente preciso tanto, tanto daquela lua imensa nascendo do mar, e meu irmão exclamando, pai, olha que barco iluminado! Hoje ele talvez esteja navegando em todos os oceanos enluarados que tanto amava, mas eu precisava dele aqui, muito.
Por que preciso tanto de ti, pessoa, bicho, mato, casa, perfume, poema, silêncio e esquivança, se nem ao menos sei o quanto pensas em mim e precisas de mim?
E tem aquilo de que tanto precisamos, que não vemos há séculos, e, de repente, por um acaso cruel, descobrimos: morreu! “Como você nem sabia? Eram tão unidos, tão bonitos juntos, a turma tinha certeza de que iam se casar!”
Então tudo volta, o carinho, a beleza, a alegria, os projetos, desfeitos por alguma razão confusa e boba que a gente esqueceu... esqueci até a mágoa inicial.
E tantos anos vieram, e deixei de precisar de ti...
Melhor chorar por ter perdido algo mais importante do que a ilusão de um amor: aquele precioso alfinete de cabecinha de vidro azul tão claro, que não consegui tirar do segredo da fresta.