Sempre achei tudo muito estranho neste mundo. Era fascinada pela lombada de um livro da biblioteca de meu pai, Grande e Estranho é o Mundo.
O que era ser estranho? Era como um segredo que ninguém devia saber? Mas eu sabia muita coisa esquisita que todos sabiam.
O segredo será estranho para todos igualmente? Certamente não. Porque somos esquisitos mesmo.
Nunca vi mulher apanhar de marido e não acharia estranho, acharia monstruoso. Ela continuar com o animal covarde seria bizarro. Ela bater de volta seria uma glória, triste mas glória.
Nem sei como hoje falamos coisas tão esquisitas que antigamente seriam segredos mal ocultos. Hoje tudo filmado nas mais loucas selfies, gente fazendo questão de gravar e exibir intimidades, fim para os mistérios.
Em cada começo, seu grão de magia, escreveu Hesse num livrinho que traduzi faz meses. Aquilo me emocionou como um punhal de mel. Guardei como um segredo quase amoroso, delicado e inocente. E me fez muito bem. Um pequeno segredo um pouco dividido, e eu nem sabia direito o seu significado.
Ou sabia?
Neste mundo de grosserias e escracho, mentiras e cinismo ou frieza no comando do país ou de uma vida, nada mais consolador do que um pequeno segredo sutil, que vem e vai, mas se procurarmos bem está ali e nos faz sorrir acordados de noite: beleza ajuda.